Descrição de chapéu Obituário Francisco Souto Paulino (1935 - 2023)

Mortes: Alvo de violência, defendeu a cultura da paz na comunicação

Francisco Souto Paulino dedicou sua via à universidade e ao jornalismo

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Salvador

Francisco Souto Paulino viveu com uma bala alojada na coluna dos 71 aos 87 anos. Em março de 2007, levou um tiro quando se dirigia ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará, em Fortaleza (CE), para fundar a Agência da Boa Notícia, ONG cujo objetivo é estimular a paz por meio da comunicação.

Ele foi abordado por dois assaltantes enquanto estacionava o carro. Segundo a esposa Lêda Maria Souto, 70, que o acompanhava, Francisco saía lentamente do veículo, com as mãos levantadas, quando foi atingido.

Francisco Souto Paulino (1935 - 2023)
Francisco Souto Paulino (1935 - 2023) - Arquivo pessoal

Ele nasceu em 10 de agosto de 1935 na zona rural de Canindé, a 117 km de Fortaleza, e cresceu com dez irmãos no sítio da família. Aprendeu a ler e a escrever com uma professora contratada pela mãe, mas, aos 11 anos, foi sozinho estudar em uma escola na área urbana da cidade, onde morava um tio. Diferentemente dos irmãos, gostava mais dos livros do que da terra.

Prestes a entrar na faculdade, viajou para a capital do estado, onde se alojou na Casa do Estudante. A instituição abriga alunos do interior que não têm condições financeiras de se manter. Da mesma forma que fundou o Grêmio Estudantil no interior cearense, foi um dos responsáveis pela reforma da Casa do Estudante.

Formou-se em Comunicação pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e lecionou lá por 20 anos. Depois, foi chefe de Redação do jornal O Povo, onde conheceu sua mulher.

"Eu era repórter, então ele para mim sempre foi profundamente sério, profissional, respeitadíssimo no que fazia. Um ser humano modelo", conta Lêda.

Souto Paulino fez duas pós-graduações: em sociologia do desenvolvimento pela UFC e em publicidade e propaganda pela Universidade Nova de Lisboa, em Portugal.

Em 2007, após semanas em coma na UTI, com a bala muito próxima a uma vértebra para ser removida, Souto se recuperou, voltou com a Agência da Boa Notícia e fundou o Prêmio Gandhi, que premia —com um valor em dinheiro— profissionais e estudantes de comunicação que se destacam na promoção da paz no estado do Ceará.

A agência conseguiu diminuir os horários reservados a programas policiais com relatos de casos violentos na rádio e na TV, além de abolir as páginas policiais dos jornais.

Francisco criou três filhas, pondo a educação sempre em primeiro lugar. Depois, preencheu as horas lendo livros e em encontros semanais com amigos. "Seu hobby era o diálogo", conta Lêda.

Morreu no Hospital São Camilo em 6 de abril, aos 87 anos, em decorrência de uma infecção. Do seu leito, era possível ver a Casa do Estudante.

"Nos momentos de lucidez [dele], eu falava 'Olha a casa que você ajudou, vamos rever quando você ficar bom', e ele me contava histórias da época", relembra Lêda.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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