Na década de 1940, Juazeiro era uma cidade de 25 mil habitantes no interior baiano, sem maternidade e na qual a iluminação pública era desligada às 22h. A jovem parteira Eloina Martins saía pelas ruas com auxílio de uma lanterna, atendendo ao chamado das famílias nas madrugadas.
Em mais de 40 anos de atuação, milhares de crianças nasceram em suas mãos. Eloina anotava os nomes dos bebês em um livro. Já passava de 1.500 partos quando esse registro foi perdido em uma enchente do rio São Francisco, em 1957.
Lolô, como era chamada, nasceu no dia 30 de abril de 1925, em Senhor do Bonfim (BA), em uma família de 20 filhos. Na infância, gostava de brincar de enfermeira, conta a irmã mais nova, Ritta Martins Nascimento, 93.
Na juventude, foi morar em Juazeiro, seguindo os passos de uma irmã mais velha, que tinha se casado e mudado para a cidade ribeirinha. Lá, se formou enfermeira.
Eloina acompanhou a criação da Maternidade São José, onde trabalhou muitos anos. Depois, atuou na Companhia de Navegação do São Francisco, atendendo famílias dos trabalhadores das embarcações. No Inamps, antigo INSS, trabalhou no setor administrativo até se aposentar. Mas nunca deixou de atender quem pedia sua ajuda como enfermeira ou parteira.
Certa vez, foi a uma casa que nem tinha bacia para o banho do bebê. Ela pegou uma gamela (panela de madeira) e esterilizou, queimando com álcool. No outro dia, voltou com doações de roupas e remédios. "Ela tinha prazer em servir", diz Ritta.
Lolô não se casou e não teve filhos de sangue, mas adotou um sobrinho, que perdeu a mãe aos sete meses. Também ajudou na criação de muitos outros sobrinhos, principalmente pagando os estudos, que via como prioridade.
O filho adotivo, seu xodó, morreu há dez anos. Eloina foi, então, morar com Ritta. Foi na casa verde da rua Eduardo Brito, no centro de Juazeiro, que passou seus últimos anos de vida.
O quadro, pendurado na sala de casa, indica um hobby: pintar flores. Entre seus pertences, há centenas de fotos de crianças enviadas pelos pais e guardadas com carinho pela parteira.
Lolô ficou dois anos e meio acamada, mesmo sem nenhuma doença diagnosticada nos exames, que fazia mensalmente. Morreu na noite do dia 5 de abril, após sua oração diária, aos 97 anos. "Ela parou de falar logo após dizer amém, e eu achei que estava indo dormir", conta a irmã.
"Mãe Eloina", assim chamada por muitas pessoas, deixa os irmãos Ritta e Hélio, sobrinhos e primos e, como boa parteira, uma infinidade de afilhados.
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