Descrição de chapéu Folhajus

CNJ pune juiz de SP acusado de assédio sexual com aposentadoria compulsória

Marcos Scalercio terá direito a vencimentos proporcionais ao tempo de serviço; OUTRO LADO: defesa diz que avalia recorrer

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Brasília

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) impôs nesta terça-feira (23) aposentadoria compulsória ao juiz Marcos Scalercio, acusado de assédio e importunação sexual contra ao menos três mulheres em São Paulo. Ele terá direito a vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.

O juiz nega as acusações. A defesa afirma que avalia recorrer da decisão.

Scalercio atua como juiz substituto no TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região), em São Paulo, e estava afastado de suas funções desde setembro de 2022, por decisão anterior também do CNJ.

Por unanimidade, os conselheiros concluíram haver indícios de infração disciplinar por parte do magistrado. O colegiado votou o relatório final de um PAD (processo administrativo disciplinar), no qual a juíza Salise Monteiro Sanchotene, relatora do caso, citou um "padrão de comportamento prolongado" por parte do investigado.

O juiz Marcos Scalercio é alvo de investigação por abuso sexual no âmbito do CNJ - Reprodução

"A incompatibilidade da conduta com o exercício da magistratura é inequívoca e se coaduna com a aplicação da pena mais grave", afirmou a relatora.

A presidente do CNJ, ministra Rosa Weber, afirmou que o processo é "paradigmático, enquanto reflete uma sociedade estruturalmente machista, que invisibiliza as mulheres; mais do que isso, as silencia pelos constrangimentos que a elas impõem".

Weber disse lamentar que a legislação garanta ao condenado o recebimento de vencimentos proporcionais pelo tempo de serviço público prestado.

De acordo com os registros processuais, o magistrado, que é professor de curso preparatório para a Ordem do Advogados do Brasil, abordava vítimas em locais de estudo, virtualmente e mesmo no trabalho. As formas de assédio iriam de convites para sair, sob o pretexto de dirimir dúvidas do curso, conversas invasivas de cunho sexual, por meio de redes sociais, a beijos forçados.

As denunciantes —alunas ou servidoras do TRT-2— relataram ter sofrido violências físicas em pelo menos quatro oportunidades.

Em seu voto, a relatora determinou o encaminhamento dos autos à Corregedoria Nacional de Justiça "para a pertinência da apuração dos relatos narrados pelas testemunhas que extrapolam a delimitação contida neste PAD".

A defesa de Marcos Scalercio afirmou que não havia nas situações em análise reiteração de condutas, que testemunhas arroladas pela acusação seriam "testemunhas de ouvir dizer" e que "os aspectos verificáveis dos relatos [de acusação] foram todos desmentidos", tanto por testemunhas indicadas pelas denunciantes como por aquelas arroladas pelo juiz.

Reveladas em agosto, as denúncias foram recebidas pelo Me Too Brasil em parceria com o Projeto Justiceiras, organizações que acolhem mulheres vítimas de violência sexual.

Segundo o Me Too Brasil, as vítimas afirmam terem sido assediadas pelo juiz entre 2014 e 2020. De acordo com os relatos, Scalercio as agarrava e as forçava a beijá-lo recorrentemente.

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