Descrição de chapéu Obituário Alzira Rufino (1949 - 2023)

Mortes: Foi referência para o feminismo negro

Formada em enfermagem, Alzira Rufino dedicou a vida à luta antirracista

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São Paulo

Os 73 anos de vida de Alzira Rufino foram marcados pela coragem, pela inteligência e pelo esforço para construir uma sociedade livre do racismo e da misoginia.

Rufino nasceu em Santos, no litoral paulista, em 6 de julho de 1949. Formada em enfermagem, sempre debateu o papel da mulher na sociedade brasileira, tornando-se referência no movimento feminista.

Alzira Rufino deixou produção e histórico de luta pelas mulheres negras - Arquivo Pessoal

Criou, em 1986, o Coletivo de Mulheres Negras da Baixada Santista para ações de combate ao racismo e ao machismo.

"Ninguém queria ceder espaço para as reuniões, então aconteciam na garagem do prédio dela, de forma improvisada. O apartamento era sala e quarto, imagina a cena", diz a professora e pesquisadora Urivani Carvalho, companheira de Rufino.

Quatro anos depois, ela também fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra, uma ONG que dá auxílio jurídico e psicológico para vítimas de violência sexual e doméstica e de racismo, além de promover desenvolvimento profissional.

"A casa ficava no Boqueirão, área nobre, de forma proposital. As negras só frequentavam o bairro para trabalhar como domésticas, para servir. A escolha do local também foi política", afirma Carvalho.

Rufino era também ensaísta, poetisa e contista, tendo participado de edições dos Cadernos Negros, organizados pela editora Quilombhoje. Lançou, em 1988, o livro de poemas Eu, Mulher Negra, Resisto.

Recebeu em 1992, o título de cidadã emérita da Câmara Municipal de Santos. Em 2014, recebeu a medalha Ruth Cardoso, conferida pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Ela dá ainda nome ao núcleo da Educafro em Santos.

"A vida não foi fácil. Era um coletivo, mas ela que ia para a linha de frente, que tomava porrada, tiro, era ameaçada", diz Carvalho. "Chegou um ponto que ela não podia andar sozinha, mal podia sair na rua. Não foi fácil".

"Ela era extremamente sensível, generosa, mas tinha autoridade. Era da personalidade dela. Era muito vaidosa também. Não tirava foto sem estar maquiada e não saía sem o cabelo estar trançado. Mas era uma criança, cantava, era muito alegre na nossa casa. As pessoas já sabiam quando ela tava em casa pelo cheiro da comida e pela música. O hobby dela era cozinhar", revela Carvalho.

Rufino morreu em 26 de abril, depois de alguns dias internada em decorrência de um AVC e outras condições de saúde que já a acometiam. Ela deixou a companheira Urivani Carvalho.

Ela também tinha uma filha e uma neta que morreram em um acidente de carro quatro meses atrás. acordo com Carvalho.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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