Tão logo completou 18 anos, Celso Antunes Horta se mudou da pequena Guaratinguetá, no interior de São Paulo, para a capital paulista para continuar os estudos no ensino superior. A ideia era seguir os passos do pai, Alberto Pinto Horta, um ex-feirante que tardiamente cursou direito. Mas a turbulência política do Brasil de 1968 fez com que os planos fossem interrompidos.
Celso conciliava os estudos na PUC-SP com a participação ativa no movimento estudantil. Iniciou sua militância política na ALN (Aliança Libertadora Nacional) e esteve na Batalha da Maria Antônia, conflito entre universitários que terminou com um jovem morto, em outubro de 1968.
"Ele se envolveu profundamente com o movimento estudantil, tanto que acabou sendo preso aos 19 anos. Passou pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e depois foi para o [complexo penitenciário do] Carandiru. No total, foram quase nove anos preso", conta uma das filhas, a jornalista Joana Crivelente Horta, 39.
No período em que ficou preso, Celso foi torturado, uma parte de sua biografia que ele não gostava de falar nem com amigos nem com a família. "Eu entendo ele não querer falar. Foi muito doloroso para ele. Não falava para continuar vivendo, e viveu de forma tão amorosa", diz Joana.
Após ser solto, em 1977, Celso foi cursar jornalismo na ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo). Trabalhou nesta Folha entre 1989 e 1991 e, já casado e com duas filhas, foi para Havana trabalhar no Granma, o jornal oficial do Partido Comunista de Cuba.
Apesar do trabalho como jornalista, Celso não abriu mão de seus ideais do movimento estudantil e da militância política e foi um dos fundadores do PT (Partido dos Trabalhadores), em 1980. Segundo a filha Joana, ele pensava desde sempre em um projeto de comunicação de esquerda. Assim, foi assessor de imprensa do próprio PT, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Em 2006 assumiu a direção do jornal ABCD Maior, o que, para a filha, foi o projeto embrião da atual TVT, com sede em São Bernardo do Campo (ABC), berço político do PT.
Nos últimos anos, o jornalista se dedicou à pesquisa histórica que resultou no livro "Tempo dos Cardos", que conta a trajetória do militante político João Leonardo, assassinado pela ditadura militar, cujo lançamento póstumo foi realizado neste mês.
Celso se preparava para um procedimento cirúrgico no coração, mas o músculo resolveu parar antes. Morreu no dia 21 de abril, em São Paulo, aos 74 anos, após uma parada cardiorrespiratória. Deixa a mulher, Monica Cristina, as filhas Maria Augusta e Joana, a enteada Daniele, e os netos Amora, Raul, Miguel, Ana Clara e Tiago.
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