Love Cabaret, ex-Story, é inaugurado com nudez e público excitado

Espaço na região central de São Paulo quer agradar nostálgicos com sensualidade enquanto muda visão do passado

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Apresentação burlesca durante inauguração da casa noturna Love Cabaret, em São Paulo Karime Xavier/ Folhapress

São Paulo

Tum! Tum! Tum! Sons de um coração batendo anunciavam a chegada da primeira atração à inauguração do Love Cabaret, em São Paulo, às 21h desta sexta-feira (23). Espalhados em mesas e poltronas a rodear uma arena centralizada na casa noturna, quase 320 espectadores —a lotação máxima—cochichavam sobre o conteúdo por vir. Vai rolar sexo? Indagou maliciosamente um homem de meia-idade.

Vertiginoso show de luzes começou enquanto playlist dos anos 1980 tocava. Uma mulher de dois metros, atingidos com ajuda de saltos enormes, vestido escarlate e barba alinhada desceu serenamente as instagramáveis escadas instaladas no ambiente, chegando aos holofotes.

"Este lugar, julgado e estigmatizado, mudou. Passou por uma transição de gênero, assim como eu. A Story [símbolo da noite paulistana que antes ocupante do espaço] se foi. Bem-vindos ao Cabaret. Será uma noite de sensações", anunciou a travesti Indra Haretrava, 29, cerimonialista.

Apresentação de pole dance durante inauguração do Love Cabaret, em São Paulo, na noite desta sexta-feira (23) - Karime Xavier/ Folhapress

O funcionário público Cláudio Bueno, 48, realmente sentiu algo enquanto acompanhava o segundo espetáculo da casa. A pressão arterial subiu e ele precisou de um copo d’água. Era uma impudica apresentação burlesca. Nela, fartos seios arrancaram suspiros e aplausos, além da saúde de Cláudio.

Cinematográficas bundas em corpos gordos e magros, especialmente os masculinos, também compuseram a festividade. Tímidas vaginas apareciam sem avisar, mas logo se despediam. Apesar das diferentes partes à mostra, raramente vinham em uma só pessoa. O intuito dos organizadores era destacar a arte, deixando seu suporte em segundo plano.

O cardápio de performances foi variado. Profissionais de pole dancing eram maioria, entretanto maior aclamação ficou com demonstrações de práticas fetichistas. BDSM (amarração, dominação e sadomasoquismo, entre outras práticas que podem até envolver a dor) e shibari (prática erótica japonesa com cordas) deixaram embasbacados os presentes, grande parte bem acima dos 30 anos.

Dentre os mais eufóricos estavam os gerentes financeiros Monica Korosue, 44, e Maurício Silva, 49. Casados há 27 anos, eles estiveram no endereço da República, bairro central da capital paulista, pela segunda vez. A primeira ocorreu ainda quando Love Story.

Para a dupla, o espaço é hoje mais convidativo e nada lembra o anterior. "O mundo mudou, e ambientes como este também precisavam. Chega de exploração. É lindo ver uma travesti apresentando espetáculos artísticos em que corpos nus de todos os tipos podem se expor sem medo. É sobre sensualidade, não somente sexo", diz Monica. Entretido com apresentação de dança, Maurício consentiu.

O discurso do casal não ecoava por todos os cantos da boate. Viúvas dos tempos de inferninho compareceram. É só isso? Cadê as meninas sentando no meu colo? Declarou um membro do camarote. Conseguiram deixar um ícone sem graça alguma, continuou.

Visando agradar nostálgicos, no entanto, o repaginado local preserva marcas de seu passado. O espaço de apresentações, por exemplo, foi instalado onde ficava a célebre pista de dança da Love Story.

Ao lado do inconformado frequentador, um casal era só sorrisos. O DJ Eduardo Corelli, 54, e o advogado Guilherme Cobra, 34, ficaram noivos após sete anos de namoro. Quando anunciado no alto-falante, toda a casa noturna, ao menos parcela não lotando o fumódromo, parou para saudá-los. A iniciativa partiu de Eduardo, que comemorou o sim recebido com um longo beijo.

Comandado pelos empresários Facundo Guerra, Caire Aoas e Lily Scott, o Love Cabaret é vendido como um "parque de diversões para adultos" a celebrar corpos e narrativas não enquadradas em padrões sociais. Também estão fora de qualquer padrão os preços dos drinks, pequenos e custando, em média, R$ 50. Comidas são mais acessíveis.

A casa ainda comercializa tabaco e variedades de camisinhas, mas somente para o after. Lá, não há espaço livre para pegação. Os desavergonhados faziam isso para uma atenta plateia.

Os ingressos custam de R$ 30, para sentar em poltronas no térreo, a R$ 360, dando a possibilidade de frequentar os badalados camarotes no mezanino.

O trio à frente do estabelecimento o adquiriu em leilão após o melodramático fechamento de portas da Love Story, em 2021. A marca entrou com pedido de recuperação judicial em agosto de 2018, com dívida de quase R$ 1,7 milhão. Sua falência foi decretada três anos depois, aos vinte anos de atividade.

LOVE CABARET

  • Quando: quartas e quintas, das 19h à 1h; sextas e sábados, das 19h às 3h
  • Onde: rua Araújo, 232 - República
  • Preço: de R$ 30 a R$ 360
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