Boate Love Story perde público com a crise e pede recuperação judicial

Casa noturna de São Paulo sofre com processos trabalhistas e queda do faturamento

Raquel Landim
São Paulo

A Love Story, uma das mais conhecidas casas de entretenimento de público adulto de São Paulo, entrou com um pedido de recuperação judicial na Justiça. A informação foi antecipada nesta terça-feira (7) pela coluna Mônica Bergamo.

Abatida pela recessão da economia, a boate está sem recursos para pagar suas dívidas, que somam R$ 1,76 milhão, conforme o pedido protocolado na Vara Especializada em Falências e Recuperações Judiciais.

No ano passado, a Love Story, conhecida pelo slogan "a casa de todas as casas", assistiu seu faturamento despencar dos usuais R$ 4,5 milhões anuais para menos de R$ 3 milhões.

Segundo o advogado Marcelo Merlino, que representa a empresa, a queda da receita é consequência da redução do número de frequentadores, que saiu de uma média de 500 pessoas por noite para 200 a 250.

"Por conta da crise econômica, o setor de entretenimento vem sendo sofrendo bastante e não foram poucas as casas noturnas obrigadas a fechar as portas nos últimos anos", disse Merlino.

Localizada no centro de São Paulo em frente ao famoso Edifício Copan há quase duas décadas, a Love Story se define como uma "mistura" dos clubes de Ibiza, na Espanha, e Amsterdã, na Holanda.

Tornou-se a casa de diversão das garotas de programa após uma noite de trabalho ou durante as folgas, atraindo os rapazes em busca de préstimos pelos quais não precisasse pagar.

Mas a boate ficou famosa após o sucesso do blog de "Bruna Surfistinha", uma garota de programa que frequentava a casa. A história da adolescente de classe média alta que fugiu de casa e decidiu se prostituir já virou livro e filme.

A marca Love Story pertence à empresa Bar e Restaurante Dançante Mimar Ltda. A companhia, que possui dois sócios e uma sócia, foi fundada no dia 18 de maio de 2000.

A crise da empresa se agravou no ano passado. Por causa da queda no movimento, a companhia foi obrigada a demitir 30 dos seus 70 funcionários. Boa parte deles entrou na Justiça, solicitando que as gorjetas que recebiam dos frequentadores passassem a fazer parte dos salários.

Dos R$ 1,76 milhão devidos pela companhia, mais de 70% são dívidas trabalhistas. Também está em atraso R$ 100 mil de pagamento do aluguel do local, que pertence a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, uma dívida de R$ 40 mil com o Ecad, escritório central de arrecadação e distribuição de royalties de músicas para seus autores, e um empréstimo de R$ 77 mil com o Santander.

Dançarina no pole dance na Love Story; festa mistura garotas de programa e público descolado - Avener Prado - 11.dez.15/Folhapress

Se a recuperação for aprovada pela Justiça, a Love Story deve apresentar um plano de recuperação, que pode incluir um maior prazo para o pagamento da dívida e até uma redução no valor a ser pago.

Segundo o advogado Marcelo Merlino, a empresa é viável. Ele afirma que o faturamento já voltou a subir no primeiro semestre de 2018, embora ainda seja insuficiente para sanar as dívidas.

E também garante que a Love Story, por enquanto, não tem planos de fechar às portas e deve seguir operando normalmente, apesar da crise.

A casa teve momentos memoráveis. Em 2005, o boxeador Mike Tyson, após se envolver em uma briga com o profissional de outro clube, o Bahamas, foi parar na delegacia. Em 2009, abrigou uma festa do programa Pânico, reunindo celebridades.

Entre 2013 e 2015, quando a economia brasileira ainda crescia, o desemprego estava no mais baixo nível da história e o consumo bombava, a Love Story chegou ao auge da popularidades e, pode-se dizer, viveu um momento de refinamento.

A boate foi descoberta pelo público mais descolado. Os jovens de classe média migraram do fervo de bares, baladas e restaurantes da rua Augusta para ver por dentro as peculiaridades do inferninho que varava não apenas as madrugadas, mas também as manhãs.

Entre os ilustres que circularam nesse tempo estiveram a cantora Fafá de Belém, que deu uma palhinha ao microfone, o chef Alex Atala, que serviu uma galinhada no estabelecimento e Erick Jacquin, jurado do "Masterchef.

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