Descrição de chapéu Obituário Lizete de Souza Cafiero (1944 - 2023)

Mortes: Viveu a Tropicália e foi a vanguardista da família

Lizete de Souza Cafiero era a tia 'pra frente' e fez tudo o que quis na vida

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São Paulo

Lizete Cafiero, em suas próprias palavras, "fez tudo que quis na vida". Parte desse tudo foi, na juventude, conhecer e experimentar a Tropicália e outros movimentos dos anos 1970 que protestavam contra o autoritarismo da ditadura militar.

Estudou teatro com Augusto Boal, mas não chegou a atuar. Também cantou em um dos bares da rua Maria Antônia com Chico Buarque, episódio que marcou sua memória. Em uma de suas viagens, cantou fado em um bar de Conservatória, em Portugal, inspirada em Amália Rodrigues.

Além das festas e da liberdade, Lizete acompanhou ativamente a resistência política, mas não se fixou em nenhuma corrente partidária ou artística.

Lizete Cafiero
Lizete de Souza Cafiero (1944-2023) - Arquivo pessoal

Nascida em São Paulo em 1944 e caçula de três irmãos, Lizete começou a estudar direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie no fim dos anos 1960. Frequentava teatros, bares e festas, causando arrepios à mãe, Ludgeria Muniz Souza. Mas havia em casa quem a apoiasse.

"O pai dela era o ídolo, seu Campione, que todo mundo chamava de seu Nenê. Meu avô era muito generoso, expansivo, ela puxou isso dele", diz a sobrinha Carlota Cafiero, 48. A profissão de advogada fazia os olhos do pai brilharem. "Ela era o orgulho dele por isso, e aí ele segurava a onda da minha avó."

Formada, Lizete enveredou para o ramo de imóveis e trabalhou na imobiliária Clineu Rocha. Seu trabalho consistia em analisar a parte legal dos imóveis depois da venda. Com a experiência adquirida, resolveu, nos anos 1980, fundar sua própria empresa, a Planic, que tocou por 42 anos. "Como ela veio da Clineu Rocha e pegava os pepinos, resolveu criar a empresa", afirma Carlota.

Era ainda a tia fantástica que chegava tarde e levava os sobrinhos para sair. Com isso, inspirou uma frase do pai de Carlota, Nelson, 76: "Não vá dar uma de Lizete!".

A expressão, ela descobriu depois, significava ser "para frente", independente e curiosa. Carlota diz que estudou jornalismo por causa do gosto da tia pela leitura, especialmente sobre política, tema frequente nos debates da família.

Internada no fim de maio por uma pneumonia, Lizete teve melhoras, mas a infecção voltou e ela não resistiu à terceira intubação. A sobrinha diz que ela parecia saber da partida, porque chegou a dizer, no hospital, que havia feito de tudo na vida.

"Ela disse 'não tem nada que eu quisesse que não tenha feito'." Lizete Cafiero morreu em 16 de junho, aos 78 anos. Deixa cinco sobrinhos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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