Descrição de chapéu Obituário Maria José Sarno (1960 - 2023)

Mortes: Jornalista e psicóloga, era o ouvido amigo de familiares e desconhecidos

Maria José Sarno trabalhou por mais de 30 anos em Redações de TV e se reinventou através da escuta

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São Paulo

Maria José Sarno tinha um interesse irremediável pelas pessoas e pelas histórias que lhe confidenciavam, a ponto de isso ter marcado sua relação com o mundo e as duas profissões que exerceu em 63 anos de vida. Jornalista ao longo de décadas, psicóloga nos últimos anos, seu principal talento era a escuta.

Zezé, como era conhecida pelos amigos, nasceu em São Paulo em 1960 e cresceu em cidades como Rio de Janeiro, Curitiba e Campinas, no interior paulista. Era filha de uma dona de casa e de um jogador de futebol, que em seguida se tornaria treinador.

Tinha uma conexão especial com o pai, Francisco José Sarno, campeão da Copa Rio de 1951, que foi zagueiro em times como Palmeiras, Santos e Vasco. A família acompanhava as mudanças de cidade dele por causa do trabalho, treinando equipes da Ponte Preta, do Coritiba e do Corinthians por alguns jogos, entre 1971 e 1972.

A ex-repórter da Globo Maria José Sarno
Maria José Sarno (1960 - 2023) - Reprodução/GloboNews

A filha cresceu sem criar simpatia pelo futebol, que impôs à família a volatilidade das vitórias e derrotas —essas últimas, frequentemente seguidas por demissões e recomeços. Quando tornou-se independente, Zezé quis criar raízes na capital paulista.

Trabalhou por quase 30 anos na TV Globo, primeiro como repórter nos anos 1980 e depois como editora de texto e editora-executiva. Sua entrada no jornalismo ocorreu pelo interesse por política e também o desprezo à ditadura militar.

Quando já havia se estabelecido como moradora da zona leste de São Paulo, Zezé se envolveu em movimentos sociais que surgiam na periferia e acompanhou o surgimento do PT do ponto de vista de quem conhecia as lideranças nos bairros.

"O jornalismo foi para ela justamente uma forma de ajudar na comunicação [com a periferia], de levar a realidade para as comunidades e também amplificar a voz dessas comunidades", disse seu filho, Marco Aurelio. "Ela era despida de preconceito, todas as histórias para ela eram válidas."

Era raro que Maria José, a simpatia em pessoa, se comportasse de maneira séria ao conhecer alguém. Mas isso aconteceu quando ela foi apresentada à namorada de Marco Aurelio, que anos depois se tornaria esposa.

Na noite anterior, ela havia sonhado com sua neta, um bebê que apareceu com o rosto nítido em seu sonho. Tomou um susto e ficou mais calada do que o costume quando foi apresentada à nora: o rosto era igual ao da criança no sonho. Helena, filha de Marco Aurelio, nascera anos depois.

Casou-se três vezes e, por dois anos, morou em Porto Alegre (RS). Estudou história e musicoterapia, e sua aposentadoria do jornalismo coincidiu com a formatura em psicologia.

"Zezé construiu amizades improváveis", diz a psicóloga Emilia Fukunaga, amiga da jornalista havia 35 anos. "Ela exercia esse papo conciliador, preocupado. Todas as pessoas que a conheceram comentam a capacidade dela de dar acolhida, de dar ajuda, apoio emocional. Ela sempre foi assim na vida, no trabalho, na vida pessoal: muito preocupada nas questões emocionais."

Ela atendeu pacientes por cerca de dois anos, até que o tratamento de um câncer no céu da boca interrompeu a atividade. Era o segundo: ela havia tratado, com sucesso, um câncer de mama aos 44 anos.

Zezé morreu no domingo (2) e, além do filho Marco Aurelio e da neta Helena, deixa uma irmã mais nova, Vera, e o marido Jorge Tafarel.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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