Diretora de creche no Rio é afastada por dançar 'Toma Rajadão' com crianças

Episódio se soma ao caso do 'cavalo tarado', que resultou no afastamento de diretores de quatro escolas

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Rio de Janeiro

A diretora de uma creche em Costa Barros, na zona norte do Rio de Janeiro, foi afastada nesta quinta-feira (31) pela Secretaria Municipal de Educação por dançar um funk cuja letra tem conotação sexual com crianças da unidade.

O vídeo com a cena viralizou nas redes sociais. Nas imagens, Fernanda Alvarenga Araujo Gomes, diretora da creche municipal Luiza de Barros de Sá Freire, dança com uma dezena de crianças a música "Toma Rajadão", de Pedro Sampaio e Thaysa Maravilha.

A reportagem não conseguiu localizar a diretora, que apagou os perfis que mantinha nas redes sociais. A Folha também tentou contato com a escola por telefone, mas as ligações não foram atendidas.

Com uniformes, shorts azuis e camisetas brancas, crianças estão posicionadas em círculo. Ao lado, uma mulher de calça bege e camiseta preta faz movimento de dança. Algumas crianças acompanham, outras parecem estar paradas
Diretora dança funk 'Toma Rajadão' ao lado de crianças de creche na zona norte do Rio. Servidora foi afastada pela prefeitura - Reprodução

A secretaria afirma que abriu uma sindicância para investigar o episódio. O caso foi divulgado pelo próprio secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, em um vídeo publicado na noite desta quarta (30) em seu perfil no Instagram.

"Nós não toleramos que crianças sejam expostas a qualquer conteúdo inapropriado em escolas municipais do Rio. É uma coisa óbvia que todo mundo, principalmente quem trabalha na educação, deve ter consciência. Música com conteúdo sexual e apresentações impróprias são proibidas. Criança tem que consumir conteúdo de criança", afirmou Ferreirinha.

"A esmagadora maioria dos nossos profissionais realiza um trabalho incrível, e eu tenho prazer de pertencer a isso todos os dias", acrescentou o secretário.

Homem com camisa branca, cabelos lisos e pretos, olha para a câmera com aparência tensa. Em uma das mãos, segura um celular em que aparece uma imagem de uma mulher com crianças ao redor
Secretário de Educação da cidade do Rio, Renan Ferreirinha publicou vídeo em que repudia diretora de creche que dança funk de conotação sexual com alunos - Reprodução/@renanferreirinha no Instagram

'CAVALO TARADO'

Em dois dias, este é o quinto caso de diretor afastado pela Prefeitura do Rio de Janeiro por casos envolvendo músicas consideradas inapropriadas para o ambiente escolar.

Nesta quarta, diretores de quatro escolas municipais foram afastados após a repercussão de um espetáculo da companhia Suave na qual os bailarinos dançam o funk "Cavalo no Cio", conhecido como "cavalo tarado". O vídeo da apresentação do grupo no Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) Luiz Carlos Prestes, na Cidade de Deus, no último dia 22, viralizou, e diante da polêmica a prefeitura abriu uma sindicância.

Vestida com uma máscara de cavalo, uma dançarina da companhia simula movimentos de galope ao som do funk, cuja letra diz "galopa, galopa, depois senta e rebola". Depois, ela dança e interage com as crianças, que assistem à apresentação no pátio da escola.

Dançarina da companhia Suave com máscara de cavalo em apresentação no Ciep Luiz Carlos Prestes, na Cidade de Deus, no Rio - @Eduprestesm no Twitter

Além da direção do Ciep da Cidade de Deus, foram afastados os diretores de outras três escolas que tinham firmado acordo com a companhia Suave para receber seus espetáculos —Ciep Gustavo Capanema, na Maré; escola municipal Marechal Estevão Leite de Carvalho, no Engenho da Rainha; e escola municipal Rivadavia Corrêa, no centro do Rio. As apresentações do grupo foram canceladas.

A companhia Suave venceu em 2022 um edital público de R$ 50 mil para apresentações e oficinas nas escolas. A Secretaria Municipal de Cultura afirma que o grupo havia indicado que o conteúdo era de classificação livre e, agora, quer reaver os R$ 50 mil.

Em vídeo publicado na terça (29), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), se disse indignado com a apresentação e afirmou que vai "endurecer o controle" sobre atividades na rede municipal.

"Recebi esse vídeo absurdo e queria entender o que passa na cabeça de alguém que acredita que isso aqui é algo que possa ser apresentado para crianças. Reagi como qualquer pessoa lúcida: com muita indignação e repúdio", disse Paes.

"Vamos endurecer o controle sobre qualquer apresentação, atividade, ou palestra feitas nas escolas municipais da cidade. Não admito que a gente desperdice tempo e exponha as crianças a esse tipo de conteúdo."

Procurados, os integrantes da companhia Suave não responderam às mensagens enviadas pela reportagem, e os perfis do grupo nas redes sociais foram deletados.

A dançarina Thamires Cândida, que no vídeo aparece com a máscara de cavalo, se defendeu em um vídeo publicado no TikTok. Segundo ela, a versão da música tocada na escola diz "cavalo danado", e não "cavalo tarado".

"Para quem está julgando [dizendo] que é do diabo, vão ter Deus no coração. As crianças estão muito felizes, não tem nada demais e a música foi modificada para uma versão light."

AUTOR DO FUNK CRITICA GRUPO

Em post no Instagram, MC Cavalo, autor do funk, criticou a versão da música usada na escola pela companhia Suave. Segundo ele, há uma versão voltada para o público infantil, na qual trechos da letra são modificados. "O cavalo está no cio", por exemplo, vira "o cavalo está no sítio", ele diz.

"Eu conheci a peça teatral através das redes sociais. Achei bacana a apresentação. O ponto negativo é a versão utilizada. Em 2014 tivemos a ideia de modificar a letra da música justamente para não acontecer o que aconteceu. Eu pedi para utilizarem a versão infantil", disse o MC.

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