Descrição de chapéu Obituário Maria Flora Whitaker Salles (1936 - 2023)

Mortes: Tradutora, foi madrinha da Luluzinha e batizou Zé Colmeia

Maria Flora Whitaker Salles traduziu livros, legendas de filmes e gibis

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São Paulo

Nascida em São Paulo em 1936, Maria Flora Whitaker Salles se tornou uma das tradutoras mais respeitadas da história do país, sendo a responsável por passar para o português as coleções dos romances de Barbara Cartland e Sabrina, além de legendas de filmes, gibis e animações para a TV.

Neta de Maria Amélia Whitaker e José Maria Whitaker, que foi ministro da fazenda de 1930 a 1931 e depois em 1955, Flora se formou em russo pela USP e chegou a cursar psicologia, mas não concluiu. Como tinha facilidade para aprender idiomas, investiu nessa área e se tornou professora de português, latim, inglês e russo.

O início de sua atuação como tradutora se deu com revistas em quadrinhos na década de 1950, quando foi chamada pela prima Maria Amélia Whitaker Gondim de Oliveira, então presidente da revista O Cruzeiro, para traduzir as histórias de Luluzinha ("Little Lulu" na versão original), que se tornou um dos principais gibis do país.

Maria Flora Whitaker Salles (1936 - 2023) e a filha Suzana Salles
Maria Flora Whitaker Salles (1936 - 2023) e a filha Suzana Salles - Arquivo pessoal

Para adequar as personagens da história ao universo brasileiro, ela aproveitou sua própria família. O maior amigo da Luluzinha passou a se chamar Bolinha França, por causa do marido de Flora, Antonio Alberto França Pinto. A personagem Meméia era a irmã e Alcéia, uma brincadeira com o ilustrador Alceu Penna, da revista O Cruzeiro. Flora também homenageou vários primos: Plínio Raposo, Zeca, Zico, o líder da turma da Zona Norte, e Miguel.

A partir de então, seu portfólio só aumentou. Além das coleções de romances Barbara Cartland e Sabrina, ela passou a traduzir legendas de filmes de época, livros de autores russos e outros quadrinhos do universo Hanna-Barbera que posteriormente viraram programas de TV, como Manda-Chuva e Sua Turma, Dom Pixote, Zé Colmeia e Catatau, Pepe Legal e Babalu, Bibo Pai e Bobi Filho, Jambo e Ruivão, Plic, Ploc e Chuvisco, Olho Vivo e Faro Fino. Todos esses nomes foram escolhidos por ela durante o processo de tradução, para facilitar a identificação pelas crianças brasileiras.

"Minha mãe era uma mulher muito à frente do seu tempo, uma aquariana dos quatro costados. Muito viva, muito culta, falava várias línguas", diz a primogênita Suzana Salles, 67, que é cantora e compositora. "Ela traduziu contos em russo, fez legendagem de cinema e o que era o mais marcante na nossa infância: Luluzinha e Bolinha."

Foi Flora que também criou a expressão "Gostosuras ou Travessuras", traduzida do inglês "Trick or Threat" usada no Halloween.

No dia a dia, Suzana conta que a mãe amava música clássica, cantar com as filhas, conversar e uma mesa farta. Tudo isso mantendo sua tradicional elegância. "Ela gostava de muito brilho, de roupas coloridas. Era muito elegante e chamava muito a atenção. Ela era magnética", afirma Suzana, destacando que Flora frequentava restaurantes, teatros, shows e concertos, mesmo que fosse sozinha.

No casamento com França Pinto, ela teve quatro filhas (Suzana, Flora, Branca e Lúcia) e adotou três enteadas: Patrícia, Daniela e Carolina. "Ela se separou muito cedo num tempo em que nenhuma mulher se desquitava, no começo da década de 1960. Então, ela enfrentou tudo por causa de um grande amor e ficou casada com o segundo marido, Antônio Rubens Mazzilli, por mais de 50 anos", diz Suzana.

Maria Flora sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) no final de maio. No tratamento, foi diagnosticado um tumor no cérebro em 13 de julho e ela morreu em 10 de agosto. "Ela ficou todo o tempo em casa cercada pelas filhas, em cuidados paliativos. Ela foi embora que nem a Camélia: deu dois suspiros e depois morreu, como na música 'A Jardineira', de Orlando Silva", conta Suzana.

Ela deixou 7 filhas, 12 netos e 4 bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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