Psicóloga e professora, Maria Cecília Corrêa de Faria dedicou a maior parte de sua vida profissional à universidade. Por mais de 40 anos, lecionou na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), onde fez graduação, mestrado e doutorado.
"Era uma professora excelente. Séria e exigente, mas sem perder a ternura. Todos os alunos gostavam dela e era profissionalmente muito respeitada", recorda a amiga de longa data Lídia Aratangy, 83, que foi aluna de Maria Cecília e colega na universidade por vários anos.
A psicóloga foi uma das primeiras no Brasil a aplicar a teoria de Melanie Klein na psicanálise infantil e a estimulação precoce em crianças com síndrome de Down —o método de atendimento clínico beneficia o desenvolvimento cognitivo. Quando foi diretora da clínica-escola da PUC, implementou projeto voltado ao atendimento de crianças, adolescentes e adultos com deficiência intelectual.
O tema permeou quase toda a vida pessoal e profissional de Maria Cecília desde que teve seu primeiro filho, em 1974. O desejo de oferecer o melhor à criança, que nasceu com síndrome e Down, se tornou estímulo para que se dedicasse ao campo de estudo ainda incipiente no Brasil, conta o caçula, Beto Faria, 46.
"Ela foi atrás de estudos fora do país, em escolas que ainda estavam iniciando pesquisas nessa área", relata Beto.
Em São Paulo, Maria Cecília criou os dois filhos sozinha, mantendo-se sempre ativa e independente. Aposentou-se da PUC aos 80 anos, contrariada, em razão de um corte no quadro de funcionários. Mesmo assim, continuou atuante no meio acadêmico, participando de bancas de mestrado e doutorado em universidades como USP e Unesp. Paralelamente, manteve uma clínica própria e teve pacientes até os últimos anos de vida.
A dedicação ao trabalho não foi barreira para que a psicóloga mantivesse relação próxima com a irmã e com os quatro sobrinhos. "A minha mãe sempre foi apaixonada pela família. Recebia muito os sobrinhos do interior, eles até moraram com ela quando eram estudantes", conta Beto.
Maria Cecília morreu aos 87 anos, no último dia 13 de agosto, por complicações decorrentes de uma esclerose múltipla. Ela passou pouco demais de um mês internada, recebendo cuidados paliativos —escolha previamente comunicada aos médicos e familiares. Deixa dois filhos, a irmã e os sobrinhos.
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