Descrição de chapéu violência

Motins, ataques e fuga em massa: relembre 10 momentos ligados ao PCC

Criada há 30 anos, facção criminosa usou a força para ganhar território no Brasil e no exterior

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São Paulo

A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior do país, foi criada por oito presos em 31 de agosto de 1993, no anexo da Casa de Custódia de Taubaté (a 130 km de SP), para, segundo seus fundadores, "combater a opressão dentro do sistema prisional paulista" e também "para vingar a morte dos 111 presos do Carandiru".

Desde então, a organização cresceu de forma exponencial, com ramificações na América Latina e lucrando com o tráfico de drogas em outros continentes.

Ônibus incendiado ma via Dutra, em São Paulo, no terceiro dia de terror provocado pela facção criminosa PCC no estado, em 2006
Ônibus incendiado ma via Dutra, em São Paulo, no terceiro dia de terror provocado pela facção criminosa PCC no estado, em 2006 - Fernando Donasci - 14.mai.06/Folhapress

Para chegar a esse nível, o PCC utilizou de muita violência contra a ordem institucional e ataques diretos a facções adversárias, provocando massacres nos presídios do país.

Confira abaixo dez momentos que mostram a atuação do grupo em seus 30 anos.

Motins (2001)

A primeira grande ação do grupo foi um motim simultâneo em penitenciárias de 30 municípios do estado de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2001. Na ocasião, os membros aproveitaram o horário de visita para tomar como reféns os 10 mil familiares que estavam nos presídios. Detentos mostraram lemas e a sigla do PCC nas janelas da prisão do Carandiru, em São Paulo.

Crimes de Maio (2006)

De 12 a 21 de maio de 2006, o estado de São Paulo viveu um caos na maior ação orquestrada pelo PCC. Houve rebeliões em 73 presídios, Centros de Detenção Provisória e nove cadeias públicas na capital, Grande São Paulo, interior e litoral do estado, além de centenas de ataques contra policiais, delegacias, quartéis, agências bancárias e a queima de mais de cem ônibus. Escolas, universidades e o comércio fecharam as portas.

Os "Crimes de Maio", como ficaram conhecidos os ataques, causaram 564 mortes (505 civis e 59 agentes públicos). Segundo relatório "Análise dos Impactos dos Ataques do PCC em São Paulo em maio de 2006", divulgado em 2009 pelo Laboratório de Análises da Violência da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), havia indícios de participação de policiais em 122 assassinatos.

Tudo começou na véspera do Dia das Mães, quando a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) decidiu transferir 765 presos para a penitenciária 2 de Presidente Venceslau, unidade de segurança máxima no interior paulista, a 564 km da capital. Entre eles estava Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, que é considerado o chefe do PCC.

Em 16 de maio de 2006, a Folha publicou reportagem afirmando que o Governo de São Paulo teria feito um "acordo" com o PCC visando pôr fim ao conflito. As rebeliões encerraram-se na noite seguinte à do encontro entre representante da SAP e Marcola, no presídio de Presidente Bernardes, apesar de o governo paulista negar veementemente a existência de um acordo.

Ataque no Paraguai (2016)

Em junho de 2016, segundo investigação da Justiça do Paraguai, o PCC organizou um ataque para eliminar um intermediário em sua expansão internacional. Uma emboscada foi armada para assassinar o brasileiro Jorge Rafaat Tomauni, então conhecido como o Rei da Fronteira, que controlava o narcotráfico e o contrabando na fronteira entre Brasil e Paraguai. O crime ocorreu na cidade de Pedro Juan Caballero. Conforme as autoridades, Rafaat autorizava outros traficantes a transitar pela região e o PCC não queria pagar pedágio a ele. A investigação indicou que membros do PCC tiveram ajuda de outros grupos criminosos da região.

Guerra de facções (2017)

No primeiro dia do ano teve início uma série de confrontos entre o PCC e facções rivais pelo país, com vistas ao domínio do tráfico de drogas. A primeira ocorreu no Complexo Penitenciária Anísio Jobim (Compaj), em Manaus (AM). Após as visitas dos familiares, dezenas de presos da facção Comando Vermelho, armados com escopetas, pistolas, facões, paus e barras de ferro, invadiram o pavilhão onde estavam os detidos do PCC. Durante 17 horas, 56 presos foram assassinados, a maioria do PCC. Alguns foram decapitados, outros tiveram o coração arrancado ou foram queimados vivos.

Em retaliação, seis dias depois, o PCC atacou oponentes do Comando Vermelho na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), matando 33 deles com crueldade similar. Era o início de uma guerra que tomou o Norte e o Nordeste do país.

Rebelião em Alcaçuz (2017)

Na semana seguinte, em 14 de janeiro, houve outro confronto envolvendo membros do PCC, mas no presídio de Alcaçuz, no município de Nísia Floresta (RN). No local, membros haviam deixado a facção paulista e formaram uma organização local, o Sindicato do Crime do RN, que era maioria na prisão. No entanto, o número de presos do PCC aumentou e ficou em igualdade de forças com os rivais. Assim, a direção resolveu transferir 220 internos do Sindicato do Crime para o presídio de Parnamirim, a 20 quilômetros dali. Isso provocou a revolta dos seus representantes, que passaram a atacar os rivais do PCC. No confronto, com facões e outras armas brancas, 27 pessoas foram mortas, das duas facções.

Mortes em Manaus (2017)

Em 12 de dezembro de 2017, segundo investigações da polícia de Manaus, um grupo de homens com roupas pretas, encapuzados e portando fuzis e pistolas chegou a um campo de terra no bairro de Compensa, onde membros rivais da facção Família do Norte (FDN) jogavam uma partida de futebol, e começou a disparar, deixando seis mortos e nove feridos. As duas organizações estavam em guerra desde o ano anterior.

Ataque em Goiás (2018)

Exatamente um ano após o massacre do Compaj, em 1º de janeiro de 2018, membros do PCC que cumpriam pena no regime semiaberto do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO) abriram buracos nas paredes para chegar às alas A, B e D, onde ficavam os detentos ligados ao Comando Vermelho e aliados da Família do Norte. O ataque deixou nove rivais mortos e 14 feridos. Dois deles foram degolados e estripados e outros tiveram seus corpos carbonizados. Além disso, 106 presos fugiram da unidade.

Novas mortes em Manaus (2019)

No dia 26 de maio de 2019, novamente no Compaj, em Manaus (AM), foi iniciado um novo enfrentamento entre PCC e Comando Vermelho. Em dois dias, 55 presos morreram por perfurações por escovas de dentes raspadas ou por enforcamento. Pela primeira vez, os ataques começaram durante a visita dos parentes. No entanto, nenhum familiar ou agente penitenciário se feriu, e não houve fugas.

Ataque em Altamira (2019)

Dois meses depois, novo ataque deixou 57 mortos no Centro de Recuperação Regional de Altamira, a cerca de 800 quilômetros de distância de Belém (Pará). Alguns foram decapitados e outros se asfixiaram quando os colchões das celas foram queimados. A unidade tinha 311 detidos na ocasião. Segundo a Susipe (Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará), foi um ataque dirigido do Comando Classe A, facção aliada do PCC, contra rivais do Comando Vermelho.

Fuga em massa (2020)

No dia 19 de janeiro de 2020 ocorreu a maior fuga carcerária da história do Paraguai, quando 76 presos ligados ao PCC fugiram por um túnel da Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero, na fronteira com a cidade brasileira de Ponta Porã (MS). Segundo o Ministério da Justiça paraguaio, houve indícios de corrupção, uma vez que muitos dos fugitivos precisaram passar por um portão que deveria estar fechado no momento da fuga.

No dia seguinte, em Rio Branco, no Acre, 26 presos da facção Bonde dos 13, aliada do PCC no estado, também fugiram. Segundo o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), os detentos fizeram um buraco na parede da cela e, com lençóis, fizeram cordas escapando pela muralha do Complexo Penitenciário Francisco d’Oliveira Conde. Um foi recapturado.

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