Descrição de chapéu violência

Chacina na Bahia deixa nove pessoas mortas, sete delas carbonizadas

Um menino de 12 anos sobreviveu e teve queimaduras graves; chacina pode ter sido motivada por disputa ligada ao tráfico de drogas

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Mata de São João (BA)

Uma chacina deixou nove pessoas mortas, sete delas carbonizadas, dentro de duas casas vizinhas na cidade de Mata de São João (a 62 km de Salvador). Dentre as vítimas, três eram crianças.

O crime aconteceu na madrugada desta segunda-feira (28) em uma localidade conhecida como Portal do Lunda, área da zona rural do município da Bahia cercada de fazendas e pequenos povoados.

Casa onde sete pessoas foram encontradas mortas e carbonizadas em Mata de São João (62 km de Salvador). Em outro imóvel, morreram outras duas vítimas - João Pedro Pitombo/Folhapress

Uma criança de 12 anos sobreviveu e foi socorrida com queimaduras graves. Ela foi internada em um hospital municipal e depois encaminhada para o Hospital Geral do Estado, em Salvador, referência no tratamento de queimados. A Secretaria Estadual de Saúde não deu informações sobre o seu estado de saúde na tarde desta segunda.

Uma das casas atacadas pelos bandidos foi incendiada. O fogo deixou sete corpos carbonizados, incluindo o das três crianças. Na outra casa, foram encontrados os corpos de duas mulheres. Elas seriam vizinhas da família atacada e foram mortas com tiros.

Mais cedo, a Polícia Civil da Bahia havia informado que os nove corpos haviam sido encontrados carbonizados, mas a informação foi retificada pela Polícia Técnica, que informou que o incêndio só atingiu uma das casas.

Em entrevista à TV Bahia, o perito Tiago Silva, da Polícia Técnica, declarou que cinco corpos estavam completamente carbonizados e dois parcialmente. Ele afirmou uma das vítimas foi morta antes de ter o corpo queimado, mas que ainda não foi possível precisar de se demais vítimas morreram em decorrência do incêndio na casa.

A Folha percorreu a casa incendiada, que tinha marcas de sangue espalhadas pelas paredes pintadas de verde e no chão de cimento. Os cômodos ficaram tomados pelas cinzas após o trabalho do Corpo de Bombeiros. Brinquedos, como uma bicicleta cor-de-rosa, ficaram para trás.

Na tarde desta segunda-feira, o clima era de tensão e medo no Portal do Lunda. Moradores evitavam circular pelas ruas, se mantinham dentro de suas casas e, em sua maioria, não quiseram comentar sobre o crime.

Um caminhão que iria descarregar produtos em um mercadinho do bairro foi orientado pelos policiais a retornar sem nem sequer iniciar o trabalho.

As aulas na Escola Municipal Arnaldo Souza Prado, nas proximidades do local da chacina, foram suspensas ainda pela manhã. Era nesta unidade que estudavam as três crianças que morreram.

Depois do trabalho do Corpo de Bombeiros e da Polícia Técnica, equipes da Polícia Civil fizeram diligências no bairro na tarde desta segunda-feira.

Delegados e agentes ouviram moradores da localidade e percorreram o local do crime acompanhados de um jovem que conhecia a família. Mais tarde, outro jovem foi conduzido pelos policiais em uma viatura.

Uma das vítimas da chacina, identificado por vizinhos pelo apelido Preá, era locatário de um bar no Portal do Lunda desde o ano passado. O estabelecimento fica a cerca de 200 metros da casa atacada, tem paredes em cor azul, bandeirolas coloridas no telhado e uma mesa de sinuca na área externa.

Sob condição de anonimato, moradores disseram que o bar costumava abrigar festas do tipo paredão nos fins de semana. Afirmaram que os eventos tinham participação de pessoas ligadas ao tráfico de drogas, mas evitaram apontar uma correlação entre o negócio e o assassinato da família.

Vizinhos também informaram que Preá havia sido baleado há cerca de dois meses após uma briga em uma festa em outro ponto do bairro.

Em nota, a Polícia Militar da Bahia afirmou que ainda não há dados sobre as circunstâncias das mortes, que estão sendo investigadas pela Polícia Civil. A Folha apurou que as forças de segurança trabalham com a hipótese de que a chacina tenha sido motivada por uma disputa de facções.

A localidade Portal do Lunda fica no Núcleo Colonial JK, colônia agrícola fundada em 1959 para abrigar imigrantes japoneses que deixaram o país após um terremoto. Parte dos descendentes dos imigrantes ainda mora na região, cercada por provados cresceram no entorno das fazendas.

Bahia vive onda de violência

A Bahia enfrenta um de seus momentos mais graves na gestão da segurança, com o acirramento da guerra entre facções, chacinas e escalada da letalidade policial, com epicentro nas periferias das cidades, cujas famílias vivenciam a morte diária de uma legião de jovens negros e pobres.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam a Bahia como o estado com maior número absoluto de mortes violentas do Brasil desde 2019. Em 2022, o estado conseguiu reduzir em 5,9% o número de ocorrências, fechando o ano com 6.659 assassinatos.

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