Descrição de chapéu Quilombos do Brasil

O que se sabe sobre o assassinato de Mãe Bernadete

A líder quilombola Bernadete Pacífico, 72, foi morta a tiros nesta quinta (17) em Simões Filho (BA)

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São Paulo

A quilombola Bernadete Pacífico, 72, conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinada a tiros na noite desta quinta (17). Ela era uma das lideranças do quilombo Pitanga dos Palmares.

O filho dela, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho, líder da comunidade, foi assassinado há seis anos.

A polícia investiga o caso. Autoridades locais, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e o presidente Lula (PT) se manifestaram repudiando o crime.

Mulher negra com roupa branca segura microfone com uma mão e aponta para a frente com a outra; ela está cercada por outras pessoas
A líder quilombola Bernadete Pacífico - facebook

A Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) afirmou que "sua dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo será sempre lembrada".

"Sua ausência será profundamente sentida. Seu espírito inspirador, sua história de vida, suas palavras de guia continuarão a orientar-nos e às gerações futuras", disse a entidade, em nota.

Veja abaixo que se sabe sobre o caso.

Quem era Mãe Bernadete

A quilombola Bernadete Pacífico, 72, conhecida como Mãe Bernadete, ela uma das lideranças do quilombo Pitanga dos Palmares.

Ela também era coordenadora nacional da Conaq e ialorixá. Mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho, líder assassinado há seis anos, atuava contra a violência sofrida pelo povo quilombola e pela titulação da terra de sua comunidade.

Bernadete foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho na gestão de Eduardo Alencar (2009 a 2016), irmão do senador Otto Alencar —ambos são do PSD.

O título de ialorixá foi popularmente atribuído a ela devido ao seu caráter maternal. Bernadete era chamada de "mãe" por toda a comunidade.

Na realidade, ela era ebomi, título atribuído aos adeptos do candomblé que já cumpriram o período de iniciação (iaô) na feitura de santo, e a obrigação de sete anos.

Onde ocorreu o crime

Mãe Bernadete foi assassinada dentro do terreiro de candomblé que comandava na cidade de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.

Com 289 famílias assentadas em 854,2 hectares, o território do quilombo Pitanga dos Palmares, do qual mãe Bernadete era líder, ainda não foi titulado, apesar de já ter sido reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desde 2017 e de a comunidade possuir certificação da Fundação Palmares.

Investigações do caso

De acordo com as primeiras informações dadas Secretaria da Segurança Pública da Bahia na noite de quinta, dois homens, usando capacetes, entraram no imóvel de Bernardete e efetuaram disparos com arma de fogo.

A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar o caso. A corporação afirma que o homicídio de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, filho de Mãe Bernadete, também está sendo apurado em inquérito policial pelo órgão.

Ainda não se sabe se existe conexão entre os casos. A PF afirma que as investigações seguem em sigilo.

As polícias Militar, Civil e Técnica da Bahia iniciaram as diligências ainda durante a noite e a perícia no local para identificar os autores do crime.

Integrantes dos governos Federal e Estadual se reuniram, na manhã desta sexta-feira (18), na sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado, em Salvador, para estabelecer medidas conjuntas sobre o caso.

A Polícia Civil disse que realiza ações integradas para elucidar a morte da ialorixá com a "utilização de toda tecnologia disponível para as apurações", além das perícias realizadas pelo Departamento de Polícia Técnica.

Feridos no ataque

Mãe Bernadete estava junto com os netos quando dois homens chegaram usando capacetes e abordaram a família. Os netos foram trancados em um quarto, e a ialorixá foi assassinada com 14 tiros.

Não existem informações de que outras pessoas tenham se ferido durante o ataque.

Ameaças contra Mãe Bernadete

No mês passado, Mãe Bernadete já havia denunciado as ameaças de morte que vinha sofrendo de fazendeiros. O quilombo Pitanga dos Palmares ainda está em processo de titulação é alvo de disputas territoriais e do setor imobiliário.

"É o que nós recebemos, ameaças. Principalmente de fazendeiros, de pessoas da região. Hoje eu vivo assim que não posso sair que eu estou sendo revistada. Minha casa é toda cercada de câmeras, eu me sinto até mal com um negócio desse", afirmou durante um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber .

Filho de Bernadete Pacífico, Jurandir Wellington Pacífico afirmou nesta sexta-feira (18) que a sua mãe recebia ameaças havia pelo menos seis anos.

"Foi um crime de mando, não tem para onde correr. O cara foi pago para executar. Isso é notório, foi um crime de execução. Executaram meu irmão em 2017, agora executaram minha mãe. Isso me faz pensar que eu sou o próximo", afirmou Jurandir à Folha, na entrada do Instituto Médico-Legal.

Programa de proteção a testemunha

Bernadete fazia parte de um programa de proteção a testemunha do Governo na Bahia. Câmeras foram instaladas na sua casa e no entorno e policiais faziam visitas periódicas ao local, mas não havia uma vigilância constante.

Jurandir afirma que a área da comunidade Pitanga de Palmares era alvo de especulação imobiliária e tentativas de grilagem de terra e disputas políticas que podem star na raiz do crime.

"Trabalhar em comunidade é complicado. Quando você defende a maioria que economicamente falando é minoria, o sistema é cruel", afirma.

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford

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