Descrição de chapéu Folha Informações chuva

Doações a atingidos por enchentes no RS não foram interrompidas para aguardar Lula ou Alckmin

Alegação feita por mulher em vídeo não foi corroborada por nenhum órgão envolvido na distribuição de doações

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São Paulo

É falso o conteúdo do vídeo em que uma mulher, que se apresenta como presidente de uma ONG de proteção animal, alega não ter conseguido retirar doações aos atingidos pela enchente em Lajeado, no Rio Grande do Sul, porque os mantimentos estavam retidos até a chegada do presidente Lula (PT) ou do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Como verificado pelo Projeto Comprova, a Prefeitura de Lajeado, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul e o governo federal negam a acusação.

Em nota, a prefeitura informou que não houve suspensão de entrega de doações e classificou as informações do vídeo como "inverídicas". De acordo com o tenente-coronel Daniel Silva, chefe da Divisão de Assistência às Comunidades Atingidas da Defesa Civil, as bases de doações do estado montadas em Lajeado não realizam entregas diretamente a voluntários ou vítimas da enchente. Os mantimentos são repassados às prefeituras, que então realizam a distribuição aos que necessitam.

À reportagem, a assessoria de Alckmin informou que, durante sua passagem pelo Rio Grande do Sul, o então presidente em exercício sequer esteve em algum dos pontos de distribuição de doações e visitou outros locais.

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Ginásio que recebeu pessoas que ficaram desabrigadas em Lajeado, no RS - Carlos Macedo - 6.set.2023/Folhapress

O Comprova buscou voluntários que trabalharam nos centros de distribuição no dia em que o vídeo foi gravado e nenhum deles corroborou a versão apresentada pela mulher. Também entrou em contato com um veículo jornalístico local, o Grupo A Hora, e, segundo a jornalista Júlia Amaral, o jornal da cidade não recebeu nenhuma denúncia igual ou similar à do vídeo.

A UPA (Unidos Pelos Animais), ONG do município gaúcho de Sarandi, comunicou o afastamento da autora do vídeo da função de presidente, por iniciativa própria. Ainda segundo a ONG, o vídeo contém somente a opinião da, agora, ex-presidente da instituição. Nenhuma das outras voluntárias estava presente em Lajeado no dia da gravação do vídeo, "tampouco tiveram oportunidade de deliberação sobre o seu conteúdo antes de ser publicado nas redes sociais".

Em seu Instagram, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, chamou o vídeo de "fake" e afirmou que buscará a responsabilização pela divulgação do conteúdo. "Isso é crime! Isso é uma conduta de pessoas sem escrúpulos que se aproveitam de uma tragédia para tentar construir uma narrativa criminosa, falta, típica dessa conduta que o Brasil não suporta mais", disse o ministro.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, informou pelo X (antigo Twitter), já ter acionado a Polícia Federal para investigar os fatos. "Reitero que fake news é crime, não é ‘piada’ ou instrumento legítimo de luta política", afirmou Dino.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

A reportagem tentou contato com Samara Baum, autora do vídeo, por ligação telefônica e por mensagem no WhatsApp, mas não obteve retorno. Após a viralização do vídeo, a médica veterinária privou seus perfis nas redes sociais, impedindo envio de mensagem por parte de pessoas que não são suas seguidoras.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Leia a verificação completa no site do Projeto Comprova.

A investigação desse conteúdo foi feita por Grupo Sinos e GZH e publicada em 15 de setembro pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, UOL, Metrópoles, Plural, A Gazeta, Correio Braziliense, Poder360, Estadão, SBT e SBT News.

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