Descrição de chapéu clima primavera

Moradores montam piscina de plástico na rua na zona leste de SP

Reservatório foi comprado por meio de rateio entre moradores que contratam caminhão-pipa para enchê-lo em dias de calor

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São Paulo

Duas mangueiras transportam água para encher a piscina de plástico montada na rua Estado de Sergipe, em Jardim Imperador, zona leste de São Paulo. Uma delas, acoplada a uma gambiarra com um cano para fazer o efeito cascata, é erguida toda vez que passam carros e motos rentes à borda.

O reservatório azul, com capacidade para 20 mil litros de água, tem remendos no fundo e foi comprado há cerca de dois anos em um rateio entre os vizinhos da rua.

"Cada um deu R$ 50. Em dias de calor forte, contratamos um caminhão-pipa para encher a piscina e o valor também é dividido entre os moradores", diz o comerciante Alan Monteiro, 47, dono do bar em frente ao trecho da rua ocupado pela piscina.

Crianças brincam em piscina de plástico montada na rua por moradora na zona leste de SP
Crianças brincam em piscina de plástico montada na rua por moradora na zona leste de SP - Karime Xavier/Folhapress

Na noite desta sexta-feira (22), quando foi registrado o dia mais quente do ano na cidade, a piscina foi enchida pelo grupo, mas um rasgo no fundo fez a vizinhança perder os R$ 250 gastos com o caminhão-pipa dias antes.

"Acordei e vi que estava totalmente vazia", disse o comerciante, que engatou uma mangueira em sua caixa d’água e outra no poço artesiano da casa ao lado para garantir a diversão.

"Tem que ter senão ninguém aguenta tanto calor", diz Monteiro, que se mudou de Fortaleza (CE) para o bairro há cerca de dois anos.

Para ele, a onda de calor recorde em São Paulo tem assemelhado o clima ao do sertão cearense.

"Em Juazeiro, dá para fritar um ovo no asfalto e aqui está ficando igual", diz.

Neste ano, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) registrou as três temperaturas mais altas durante o inverno. A máxima de 37,4ºC alcançada na cidade nesta sexta foi a mais alta, inclusive, do que o dia mais quente do verão, em 16 de janeiro quando os termômetros marcaram 32,5ºC.

Há a previsão é que a capital paulista registre o dia mais quente da história neste domingo (24). Segundo o Climatempo, a temperatura máxima deve chegar a 38ºC. Os registros, feitos desde 1943, apontam que a capital chegou a 37,8°C em 17 de outubro de 2014, valor mais alto já registrado.

A maior parte dos moradores da rua Estado de Sergipe são migrantes de cidades nordestinas que vieram a São Paulo em busca de trabalho e emprego, como o dono do bar que tinha uma loja de roupas na capital cearense e fechou após o movimento cair durante a pandemia.

As crianças são as frequentadoras mais assíduas da piscina comunitária, e os pais ficam de longe na sombra observando as brincadeiras que respigam água para todo lado.

"Eu sempre trago ele aqui quando está calor. Eu me mudei de endereço, mas continuo vindo. Não tem outra opção para as crianças por aqui", diz o caminhoneiro Lucas Barbosa, 30, vindo do Recife (PE).

Outro morador assume a vontade de entrar para se refrescar, mas diz que tem vergonha de tirar a roupa na frente dos vizinhos.

"Quando minha família se mudou para cá, eu nadava e pescava no rio aqui embaixo", diz Manoel Silva, 65, ao apontar para o córrego canalizado na avenida Arraias do Araguaia a poucos metros da piscina. "Era tudo chácara, só depois que as construtoras vieram para erguer os prédios."

Vizinha mais recente do bairro, a manicure Taline Alves, 30, conta que se surpreendeu quando viu a rua fechada durante um feriado de fim de ano por causa da aglomeração formada em volta da piscina de plástico. "Por aqui não tem um lugar legal e de graça para levar as crianças no calor. Virou um ponto de encontro", diz.

Conforme se aproxima do meio-dia, o sol quente atrai cada vez mais crianças para dentro do tanque plástico, onde acontece uma algazarra molhada. Foi neste horário que Kemylle Mara, 23, apareceu com os sobrinhos de 4 e 6 anos de maiôs e enrolados em toalhas.

"Passa protetor, senão vai ter que sair", disse ela para o menor, que se apressou em pular a borda para se jogar na água. "A mãe deles está doente, mas eu os trouxe mesmo assim. Num calor desse, as crianças precisam de uma piscina", disse.

Enquanto isso, um grupo de pré-adolescentes passou e relutou em atender os chamados para entrar na água. Um cochichou para o outro que só tinham crianças pequenas na água e saíram andando.

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