Extrovertido, Vanderli era conhecido pelas piadas, especialmente nas festas da família. Em algumas delas, ficava marcada falta das papas na língua. "Algumas delas eram sujas", diz o filho Ezequiel Bernardes, 20, que se lembra do pai como o centro da alegria em ocasiões como o Natal.
Outra preocupação era garantir fartura na mesa para convidados, e também no dia a dia. Uma de suas receitas mais famosas, o feijão verde com maxixe, creme de leite e queijo, é também uma das memórias mais fortes na família. "A gente faz uma comida e se lembra dele, é uma memória afetiva", diz a mulher, Tânia Maria Castro Sales, 53.
O gosto pela comida começou no fim da infância no interior do Ceará. Nascido em 1963, Vanderli Alves da Costa perdeu o pai, delegado de polícia, aos 7 anos. Foi criado pela mãe, Maria José, e aprendeu a fazer queijo nas visitas à fazenda da família. Com o sonho de envelhecer num sítio, ajudar a criar os animais era diversão.
Para realizar suas vontades, contava com determinação e disciplina. Após a morte do pai, a família se estabeleceu em Coqueirinhos, bairro de Fortaleza. Na escola, Vanderli conquistou uma bolsa de estudos por ser atleta de handebol.
Uma lesão no joelho, no entanto, afastou o adolescente das quadras e o fez direcionar toda a atenção aos estudos. Enquanto isso, trabalhou no setor de saúde da prefeitura da capital cearense, ajudando a aferir a pressão de pacientes e distribuindo cestas básicas.
O primeiro posto assumido no serviço público foi o de oficial de justiça, em Natal, no Rio Grande do Norte. Em 1989, casou-se e teve a primeira filha, Ludmille Costa, hoje com 34. A união terminou, a ex-companheira foi com a filha para Brasília, e Vanderli voltou para Fortaleza, mais uma vez concentrado nos estudos.
Cursou direito e foi aprovado no fim dos anos 1990 para o posto de analista judiciário, que desempenharia até o fim da carreira, em 2015, no Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, em Fortaleza.
Conheceu Tânia, à época estudante de biblioteconomia, em um bar. "Eu ia sempre a este lugar com uma amiga jornalista comer um caranguejinho. Foi no finalzinho de 2001 para 2002", ela diz. Não se separaram mais. Ezequiel nasceria em agosto de 2003, e Vitória Celeste, em 2008.
Além do trabalho, Vanderli escrevia poemas e pintava. "Telas surrealistas e reproduções de obras de outros autores para aprender. Sempre foi assim, autodidata", diz o filho.
Vanderli morreu em 8 de setembro, aos 60 anos, devido a uma infecção generalizada durante uma internação. Ele deixa a mulher e os três filhos. "Fica nossa identificação de gostar de aprender. Isso nos uniu, junto com as músicas de Fagner e Benito di Paula", afirma Tânia.
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