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3 de cada 10 jovens ativistas feministas já temeram por sua segurança, diz levantamento

Proporção é maior no Brasil do que na média global, aponta relatório de ONG internacional

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São Paulo

A defesa dos direitos das mulheres a ter uma vida plena e digna levou a ativista iraniana Narges Mohammadi, 51, a ser laureada com o prêmio Nobel da Paz em 2023, depois de 30 anos de perseguição e prisões. Ela hoje cumpre uma sentença de dez anos e nove meses e recebeu na prisão a notícia da premiação.

O Brasil não é o Irã. Ainda assim, três a cada dez jovens ativistas feministas dizem já terem temido por sua segurança durante a militância.

Manifestação na avenida Paulista no Dia Internacional da Mulher
Manifestação na avenida Paulista no Dia Internacional da Mulher - Eduardo Knapp - 8.mar.20/Folhapress

Um levantamento inédito da ONG Plan Internacional com mais de mil jovens de 15 a 24 anos, de 26 países, que se identificam como ativistas mostrou que as brasileiras temem por sua segurança numa proporção maior (29%) do que a média global (17%). No Brasil, 147 meninas e mulheres foram entrevistadas.

Segundo o levantamento, 12% das jovens ativistas feministas brasileiras que responderam ao levantamento já tiveram experiências tão negativas com seu ativismo que decidiram parar de se envolverem tanto quanto gostariam.

"Precisamos tratar o ativismo como algo natural de meninas que estão lutando por seus direitos, seja na educação, no direito menstrual ou na prevenção da violência baseada em gênero", afirma Cynthia Betti, diretora-executiva da Plan Internacional no Brasil.

Segundo ela, exemplos de outras ativistas, como a paquistanesa Malala Yousafzai, também Nobel da Paz, e a ambientalista sueca Greta Thunberg são inspiradoras, ao mesmo tempo em que a violência política e as hostilidades sofridas por mulheres que lutam por direitos afasta jovens mulheres dos espaços de poder.

"Temos visto o encolhimento do espaço cívico para luta por direitos, que precisa ser ampliado e se tornar mais seguro para as meninas poderem falar sem medo", avalia.

Betti também aponta para a questão do fundamentalismo religioso, que emergiu com força também entre as ativistas brasileiras entrevistadas.

Seja dentro de casa, nas comunidades ou mesmo nos ambientes digitais, as jovens ativistas brasileiras se dizem intimidadas ou desencorajadas pelo que consideram um conservadorismo exacerbado.

"Esse conservadorismo acaba provocando um silenciamento porque gera penalidades para o caso de a menina seguir em sua luta", diz ela. "A política precisa ser laica, e nem sempre isso tem sido respeitado no Brasil."

As entrevistas feitas para o levantamento também foram realizadas por jovens feministas.

O relatório aponta que o ativismo tem efeitos positivos sobre essas feministas. Entre as entrevistadas no Brasil, 55% afirmaram que a militância aumentou a autoconfiança, número que sobre para 70% na média global. Além disso, o ativismo também fez com que essas jovens aprendessem ou desenvolvessem novas habilidades (69% no total global, 65% no Brasil).

Mas, ao mesmo tempo, ele também teve impactos negativos sobre essas jovens, em especial no campo da saúde mental. Uma a cada quatro das ativistas entrevistadas afirmou que a militância já a fez se sentir ansiosa ou mal, seja do ponto de vista emocional ou psicológico.

"Elas têm medo, e isso afeta diretamente a saúde mental dessas jovens", afirma a diretora-executiva da Plan no Brasil.

As brasileiras entrevistadas apontam como principais entraves ao seu ativismo a falta de fundos e recursos (47%) e a falta de confiança em si (37%) ou ainda o medo das opiniões de pessoas da família (27%).

Estudo do Fórum Econômico Mundial apontou que a conquista da paridade de gênero entre homens e mulheres só deve ser alcançada em 131 anos. No ritmo atual, as desigualdades de gênero só seriam eliminadas em 2154.

Para Betti, da Plan, o ativismo dessas jovens é crucial para a redução dessa longa espera. "O ativismo é um empoderamento para as meninas, que passam a saber que podem ter voz e que suas vozes serão ouvidas e respeitadas."

Dia 11 de outubro é o Dia Internacional da Menina, e o relatório do levantamento feito com ativistas pela organização internacional faz parte de ações da campanha Acelere o Relógio, que pretende incentivar meninas e mulheres ativistas a reduzir o prazo para se atingir a paridade de gênero. O governador de São Paulo sancionou, nesta segunda-feira (9), a lei 17.778 que cria uma versão paulista da data, o Dia da Menina no estado de São Paulo.

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