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'Muita tristeza' e 'incredulidade': médicos se manifestam sobre assassinato no Rio

Uma das vítimas trabalhava no Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas da USP, e outros eram ex-alunos de especialização

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São Paulo

O telefone do ortopedista Jorge dos Santos Silva, diretor clínico do IOT (Instituto de Ortopedia e Traumatologia) do Hospital das Clínicas de São Paulo, não parava de receber mensagens e ligações desde as 5h30 da manhã desta quinta (5), de colegas de todo o país manifestando apoio.

Os três médicos assassinados na madrugada em um quiosque de praia na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, eram muito conhecidos no IOT. Marcos de Andrade Corsato, 62, era médico assistente do grupo de tornozelo e pé da instituição. Os residentes Diego Ralf de Souza Bomfim, 35, e Perseu Ribeiro Almeida, 33, já tinham feito especialização ali.

"Estamos todos chocados. É muita tristeza a gente perder um grande amigo e meninos no começo de carreira, gente bem qualificada, bem formada", diz Silva.

Médico Marcos de Andrade Corsato
Médico Marcos de Andrade Corsato é uma das vítimas de assassinato no Rio de Janeiro - Reprodução/Redes Sociais

Segundo ele, Corsato vivia um momento muito feliz, com o nascimento de uma neta. "Sabe um cara de bem com a vida, de conversa gostosa? Esse era Corsato. Além de ser um excelente médico."

Formado em medicina pela USP em 1984, Corsato foi professor dos médicos Bomfim e Almeida e também pertencia ao corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Em nota, o Sírio-Libanês disse que recebeu a notícia com "profunda tristeza". "[Era um] membro valoroso e dedicado do nosso corpo clínico e com uma passagem de nove anos pelo nosso pronto-atendimento. Sua partida repentina deixa um vazio imensurável em nossa instituição e na comunidade médica como um todo."

Um quarto médico baleado, Daniel Sonnewend Proença, foi levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, no mesmo bairro onde ocorreu o crime.

De acordo com Silva, ele teve ferimentos por tiros, com fraturas no fêmur, no úmero, no pé e na mão. Na manhã desta quinta, ele ainda passou por uma laparotomia (abertura da parede abdominal) exploratória para investigação de possível hemorragia. Segundo a Secretaria de Saúde do Rio, o quadro é estável.

Todas as vítimas participariam de um congresso internacional sobre cirurgia minimamente invasiva do pé e do tornozelo, que começou nesta quinta no Rio. São procedimentos realizados com cortes pequenos, e que possibilitam uma recuperação mais rápida ao paciente. O evento acontece pela primeira vez no Brasil e reúne mais de 300 médicos do país e do mundo.

O ginecologista e obstetra Cesar Fernandes, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), disse estar "sem chão" com o crime. "Poucas vezes na vida me senti assim. O sentimento é de incredulidade."

"A indignação seria a mesma se fossem professores, advogados, obreiros, mas por estar próximo da gente, sentimos com mais força isso."

Para ele, o Rio tem hoje vive um cotidiano inaceitável de violência. "Todos os dias a gente vê balas perdidas, mortes de crianças, de pais de família."

Segundo Fernandes, isso o preocupa em particular porque a cidade é destino de vários congressos médicos.

Em novembro, por exemplo, vai sediar o congresso brasileiro da Febrasgo, federação que congrega as associações de ginecologia e obstetrícia do país.

"Os colegas adoram ir para o Rio, mas isso [o crime] vai atemorizar demais. Isso vai ter desdobramentos que eu não ainda consigo imaginar quais serão."

O CRIME

Os três médicos foram assassinados na madrugada desta quinta-feira (5) em um quiosque de praia na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

Um deles, Diego Ralf de Souza Bomfim, é irmão da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e também cunhado de Glauber Braga (PSOL-RJ) —que é casado com Sâmia.

Ambos parlamentares são do PSOL, partido da vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros no Rio em 2018.

Imagens de câmeras de segurança mostram que os quatro médicos estavam sentados em uma mesa do quiosque quando três homens, vestidos com roupas pretas, desceram de um carro branco parado do outro lado da via e começaram a atirar no grupo.

Após balearem os quatro ocupantes da mesa, os criminosos voltaram correndo para o veículo e foram embora sem roubar nada.

As imagens mostram também que outros clientes do quiosque testemunharam o ataque e saíram correndo para não serem feridos.

Investigadores ouvidos pela Folha afirmam que a polícia trabalha com a hipótese de "execução", já que os criminosos chegam a retornar ao local e realizar mais disparos. Além disso, nada teria sido levado das vítimas.

Uma testemunha que estava no quiosque e prestou depoimento afirmou que não houve anúncio de assalto antes dos disparos.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, também classificou como "execução" o assassinato e diz que determinou que a Polícia Federal acompanhe as investigações, considerando que um deles era ligado a dois deputados federais.

"Em face da hipótese de relação com a atuação de dois parlamentares federais, determinei à Polícia Federal que acompanhe as investigações sobre a execução de médicos no Rio. Após essas providências iniciais imediatas, analisaremos juridicamente o caso. Minha solidariedade à deputada Sâmia, ao deputado Glauber e familiares", escreveu o ministro.

O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), postou em suas redes sociais que determinou o emprego de todos os recursos pela Polícia Civil do estado para a descoberta a autoria do crime.

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