Gestão Tarcísio tem alta de 86% no número de pessoas mortas por PMs em serviço

Dados são do 3º trimestre, na comparação com 2022; apesar do crescimento, patamar está abaixo do pré-pandemia

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São Paulo

A quantidade de pessoas mortas por policiais militares em serviço registrou alta de 86% no terceiro trimestre da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) divulgados nesta quarta-feira (25), foram 106 mortes entre julho e setembro deste ano contra 57 em 2022.

O número de mortes causadas por PMs de folga passou de 26 para 33.

No terceiro trimestre estão tabulados os 28 mortos durante a Operação Escudo em Guarujá e Santos. Foram 40 dias de ações de tropas da Polícia Militar na tentativa de prender os suspeitos pela morte de um soldado da Rota (tropa de elite da PM paulista) e para asfixiar o tráfico na Baixada Santista.

Policiais militares posam para foto com armas em mirante do Guarujá
A Operação Escudo realizada na Baixada Santista neste terceiro trimestre do ano serviu para aumentar a estatística de mortes por policiais militares em serviço no estado - Bruno Santos - 23.ago.23/Folhapress

O número de policiais mortos em serviço também subiu. Foram quatro neste ano contra um no terceiro trimestre de 2022. Já a quantidade de policiais de folga assassinados caiu de 7 para 1.

No acumulado de janeiro a setembro, foram 261 mortes praticadas por PMs no exercício de suas funções contra 180 no mesmo período de 2022, um aumento de 45%.

Mesmo com a alta significativa, os números continuam abaixo do que foi registrado no período pré-pandemia —PMs em serviço mataram 351 pessoas nos primeiros nove meses de 2021, 560 em 2020 e 513 em 2019.

Por outro lado, mais policiais militares foram mortos enquanto trabalhavam. Foram 9 mortes entre janeiro a setembro no estado contra 4 no ano passado. No caso de PMs de folga, houve queda de 14 para 7 homicídios.

"O aumento de confrontos diretos faz com que o número de mortes de policiais em serviço e o número de pessoas mortas pela polícia aumente significativamente. No último trimestre tivemos alguns casos que ocuparam as notícias como a Operação Escudo, em que tivemos os dois casos: uma alta letalidade policial e também agentes das forças de segurança sendo vitimados", disse a pesquisadora do Instituto Sou da Paz, Mayra Pinheiro.

Para Pinheiro, as falas do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, também podem ser um fator para ações violentas da tropa.

"Desde a campanha, a necessidade de manter a redução da letalidade policial que foi vista no estado nos últimos anos, foi minimizada pelo governo. O próprio caso da Operação Escudo, que contou com inúmeras denúncias de tortura, também foi descreditado pelo secretário de Segurança Pública da nova gestão, o que abre espaço para uma condução mais violenta nas ações policiais".

A Ouvidoria da Polícia disse estar preocupada com os dados de mortalidade de civis e policiais.

O órgão disse ser fundamental a estruturação de medidas que visem a garantir a vida da população e dos policiais e afirmou ter sugerido à SSP e aos ministérios de Direitos Humanos e Justiça e Segurança Pública a criação de grupos de trabalho para discutir e aprimorar as abordagens policiais.

A Ouvidoria ainda disse ter importante o fortalecimento e aprimoramento das câmeras corporais, cujo orçamento do estado de São Paulo foi cortado em R$ 15,2 milhões pelo governador no início do mês.

Em nota à Folha, a SSP afirmou que investe permanentemente no treinamento das forças de segurança e em políticas públicas para reduzir as mortes em serviço. A pasta cita o aprimoramento nos cursos e aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo entre as ações tomadas. A SSP também diz que "uma Comissão de Mitigação e Não Conformidades analisa todas as ocorrências de mortes por intervenção policial e se dedica a ajustar procedimentos e revisar treinamentos".

"Os números de mortes decorrentes de intervenção policial (MDIP) indicam que a causa não é a atuação da polícia, mas sim a ação dos criminosos que optam pelo confronto, colocando em risco tanto a população quanto os participantes da ação", diz a nota.

"O trabalho das forças policiais nos nove primeiros meses no Estado resultou na detenção de 141.835 infratores, 5,3% a mais que no mesmo período de 2022. No período, ocorreram 283 mortes decorrentes de intervenção de policiais em serviço, representando 0,19% do total de prisões realizadas. Todos os casos dessa natureza são investigados, encaminhados para análise do Ministério Público e julgados pelo Poder Judiciário."

Número de furtos volta aos níveis de antes da pandemia

De acordo com as estatísticas divulgadas pela SSP, o número de furtos —quando não há violência— aumentou tanto no estado de São Paulo como um todo quanto na capital paulista.

O levantamento mostra que, de janeiro a setembro deste ano, o número de furtos em geral no estado foi de 431.140, contra 398.618 apontados no mesmo período de 2019. Na capital, as vítimas de furto somaram 187.262, contra 172.712 de quatro anos atrás. Desse total, 30.543 foram furtos de veículos, acima dos 28.399 de 2019.

Por outro lado, os roubos —quando há emprego da violência, como o uso de armas— tiveram uma leve queda tanto no estado quanto na capital, inclusive no roubo de carros. Mesmo assim, pelo levantamento, 10.902 carros foram roubados na capital até setembro.

Uma boa notícia para os paulistanos foi a diminuição do número de homicídios dolosos, aqueles em que o assassino tem a intenção de matar. Após os dados apontarem 521 vítimas em 2020, os números foram caindo e chegaram a 367 este ano, também de janeiro a setembro. A estatística de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, também mostrou uma queda, de 47 em 2019, 46 em 2021 e 2022 e apenas 31 agora.

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