Quando ainda cursava a graduação de fisioterapia, Liu Leal assumiu um papel de liderança na luta por uma saúde de qualidade a todos. Não satisfeita em apenas engajar os colegas de curso da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), rodou diversos cantos do país no início dos anos 2000 para construir a Executiva Nacional de Estudantes de Fisioterapia.
Liu se apresentava como "sertaneja de Pernambuco, fisioterapeuta de formação e militante de coração pelo direito à saúde". E, como militante, se dedicou a diversas lutas no país.
"A marca dela era essa, de uma pessoa que brigava o tempo todo por aquilo que acreditava. E era muito persistente, mas também muito afetiva. O que pode parecer contraditório, mas nela formava uma combinação incrível", diz Lívia Milena Mello, amiga e colega de profissão.
Natural do Crato, no Ceará, Liu mudou muito cedo para Moreirândia, no sertão pernambucano, de onde saiu apenas para estudar.
Depois de se formar em fisioterapia, fez mestrado e doutorado em saúde pública e se engajou em diferentes frentes na formulação e implementação de políticas públicas no país. Sua atuação na área foi das mais diversas: foi gestora, pesquisadora, conselheira do Conselho Nacional de Saúde e integrante do Cebes (Centro Brasileiro de Estudos da Saúde).
Atuou ativamente no Ministério da Saúde durante a implementação do programa Mais Médicos, se dedicou à pesquisa durante a epidemia do zika vírus e deu voz à valorização profissional dos agentes comunitários de saúde, causa que escolheu para dedicar seus estudos durante o doutorado.
"Ela andou o Brasil afora convencendo as pessoas a se juntarem na luta pelo direito à saúde. Não só no Brasil, mas em vários países da América Latina. Onde ela chegava, se tornava uma liderança, porque ela não se furtava de usar a palavra para defender o que acreditava", conta Lívia.
Há quatro anos, Liu mostrou aos familiares e amigos um outro lado bonito de sua vida: a maternidade. "Enquanto mãe, mãe de Nina, eu conheci uma outra Liu. Uma mulher que sempre quis ser mãe e acreditava na ideia da família ampliada. Ela sempre teve a percepção de que família se constrói, que é feita de escolhas de afeto."
Nos últimos dois anos, enfrentou um câncer de mama e morreu no último em 4 de outubro —coincidentemente, na data na qual se comemora o dia dos agentes comunitários de saúde, profissionais que tanto defendeu ao longo de sua trajetória profissional.
"Foi uma guerreira, uma inspiração, como militante, profissional, amiga e irmã. Foi um privilégio ter convivido e aprendido com ela na vida pessoal e política", diz Lívia.
Aos 46 anos, Agleildes Arichele Leal de Queirós, conhecida por todos como Liu Leal, deixa o marido e a filha, Nina, de 4 anos.
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