Descrição de chapéu Obituário Walciley Oliveira Duarte Panã Marubo (1977 - 2023)

Mortes: Pacifista, foi um dos primeiros professores indígenas no Vale do Javari

Panã Marubo havia assumido há poucos meses a função de coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte (AM)

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São Paulo

A escolha de um novo coordenador regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) no Vale do Javari, na Amazônia, era óbvia para um grupo de pessoas da etnia marubo, uma das sete que vivem na região. Panã Marubo era visto como uma pessoa ponderada e capacitada. Era o pacifista necessário para apaziguar os ânimos.

O primo Beto Marubo, 47, conta que a tensão política na região, somada a outros conflitos antigos, exigia a presença de alguém que dominasse a língua e a forma de comunicação com os brancos.

"Estamos num embate interétnico muito forte. Em Atalaia do Norte [AM] há questões político-partidárias e o que acontece fora da aldeia também tem efeito dentro."

Walciclei sorri para foto, tem cabelo raspado curto, usa camiseta verde, cordão e camisa azul aberta
Walciley Oliveira Duarte Panã Marubo (1977-2023) - Arquivo pessoal

Walciley Oliveira Duarte, Panã na língua marubo, nasceu em julho de 1977 no clã vari-nawavo. Sua trajetória foi marcada por praticar uma filosofia ancestral fundamental para a sua geração, afirma o primo Beto.

"Essa filosofia diz que os marubos dos tempos modernos deveriam necessariamente pensar esses dois mundos ou seriam atropelados."

Foi com essa direção que Panã começou, aos 12 anos de idade, a transitar por esses dois mundos —o ancestral e o moderno— no Conselho Indígena do Vale do Javari, que se tornaria depois a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Mais tarde, seria um dos primeiros indígenas a concluir o ensino superior.

A graduação em pedagogia ajudou Panã a formar outros indígenas, inclusive na educação indígena em Atalaia do Norte, onde atuou por oito anos. Também participou do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena no Amazonas.

"Muita gente formada por ele está hoje em universidades como a de Brasília, a Federal de São Carlos [SP], e a Unesp e também no Paraná."

A tentativa de indicar Panã para a coordenação regional da Funai em Atalaia do Norte começou no fim do ano passado e foi concretizada em abril deste ano. "Era o perfil necessário, de apaziguador."

Por ter sofrido com a hepatite entre os anos 1990 e 2000, Panã tinha a saúde debilitada, segundo o primo, mas nunca deixou que isso atrapalhasse sua rotina e seus projetos.

"Muito pelo contrário. Ele não queria ser visto pelo movimento indígena como alguém convalescente, sempre dizia que queria contribuir com o necessário."

Picado por uma cobra no último sábado (14) na zona rural de Atalaia do Norte, Panã não resistiu até chegar ao hospital. Ele morreu aos 46 anos. Deixa a mulher, Amélia Barbosa Marubo, e cinco filhos.

Além das homenagens dos parentes, a trajetória de Panã Marubo foi lembrada pela Funai e por organizações como o Cimi (Conselho Indigenista Missionário). Como disseram muitas das mensagens, Panã ancestralizou.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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