Descrição de chapéu Obituário João Américo Barros (1931 - 2023)

Mortes: Jornalista e pintor, foi chefe de arte de grandes revistas brasileiras

João Américo Barros se tornou faixa preta de aikido aos 80 anos e pintou dezenas de quadros

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São Paulo

Nascido em Niterói (RJ) em 1931, João Américo Barros desde cedo demonstrou o dom para as artes. Começou a pintar aos 12 anos e desde então vinha aprimorando suas técnicas, principalmente, depois do distanciamento social provocado pela pandemia de Covid-19.

De família pobre, ele começou a trabalhar como balconista em uma padaria aos 13 anos e estudava em colégios públicos. Foi no colégio Liceu de Niterói que ele teve o primeiro contato com o jornalismo, ao editar algumas edições do jornal do Grêmio Estudantil.

Anos mais tarde, trabalhou no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), onde conheceu Maria Adelaide, com quem viria a se casar. Da união, nasceram os filhos Guilherme, 64, e Lúcia Maria, 60. Mas ele não gostava do serviço público e pediu demissão após dois anos.

João Américo Barros (1931 - 2023)
João Américo Barros (1931 - 2023) - Arquivo pessoal

Em 1954, com a ajuda de um amigo, conseguiu um emprego de estagiário de jornalismo na revista O Cruzeiro, onde trabalhou por 20 anos e se tornou amigo dos grandes cartunistas Ziraldo, Borjalo, Péricles Maranhão, Carlos Estêvão e Amilde Pedrosa (Appe).

Após algum tempo na redação, ele pediu transferência para o departamento de arte, passando a cuidar da diagramação da revista. Chegou a diretor de arte. Formado em direito, não trabalhou como advogado.

Desse período em O Cruzeiro, ele costumava contar com orgulho de momentos históricos, como ter cumprimentado o Rei Pelé, então com 17 anos, após a conquista do primeiro título mundial da seleção, em 1958; e de ter falado com a atriz francesa Brigitte Bardot em uma de suas visitas ao país.

Depois, João Américo foi chefe de arte das revistas Manchete, Manchete Esportiva, Fatos&Fotos. Na Manchete, ele fez outras grandes amizades, com os jornalistas José Esmeraldo e Carlos Heitor Cony, que muitas vezes citou o amigo em suas colunas na Folha.

Após o fim da Manchete, junto-se a alguns ex-companheiros para escrever o livro "Aconteceu na Manchete - As Histórias que Ninguém Contou". Com eles também criou o grupo Pão com Ovus, em referência aos plantões vividos no fechamento da revista, quando a empresa distribuía pães com ovos aos funcionários nas madrugadas.

"Meu pai sempre leu muito. Era muito instruído e culto. Tinha o sonho de ser professor de história porque sabia tudo sobre Napoleão, Segunda Guerra Mundial e a história do mundo", conta Guilherme Barros, também jornalista por influência do pai.

Sempre vibrante e agitado, ele resolveu praticar aikido aos 70 anos. Dez anos depois, já era faixa preta na arte marcial japonesa de defesa pessoal. "Ele era uma referência nessa arte marcial. Recentemente, foi homenageado pela turma dele. Os mestres o chamavam de mestre, de samurai", diz Lúcia Maria.

Há seis anos, a morte da companheira de vida o deixou muito triste. E com a chegada da pandemia, ele resolveu se dedicar à pintura. "A pintura se tornou uma meta de vida. Antes, ele pintava muitos quadros, mas minha mãe mandou parar por causa do cheiro da tinta. Aí, na pandemia, isolado, voltou a pintar e fazer curso online com uma mentora de pintura do Rio Grande do Sul", conta Lúcia Maria. "Ele pintou até antes de ser internado, há um mês."

Apesar das dezenas de quadros que preenchem as paredes de sua casa, João Américo nunca quis exibi-los em uma exposição. Dizia que ficariam como herança para os filhos.

Internado com pneumonia e infecção abdominal, ele morreu nesta quinta-feira (12), aos 92 anos, de falência dos órgãos. Como havia pedido, será cremado e suas cinzas serão jogadas junto às de Maria Adelaide no Campo de São Bento, jardim público de Niterói.

Ele deixa os filhos Guilherme e Lúcia, as netas Gabi e Marina e os bisnetos Miguel, Nina, Davi e Arthur.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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