'Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência', disse Bolsonaro em 2018

Ex-preisdente classificou como 'atos terroristas' os ataques coordenados por esses grupos no Rio esta semana

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São Paulo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que classificou o recente ataque a ônibus provocado por milícias no Rio de Janeiro de terrorismo, já exaltou a atuação desses grupos e disse que shopping que pagava para miliciano não tinha arrastão.

A referência foi feita em 2018, quando era candidato à Presidência, durante uma entrevista à rádio Jovem Pan.

"Você tem que pensar que tem gente favorável à milícia", disse Bolsonaro na ocasião. "Que é a maneira que ele tem de se ver livre da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência", continuou.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante evento na Câmara Municipal de São Paulo; ele já exaltou a atuação de milícias - Danilo Verpa - 25.jul.23-Folhapress

O ex-presidente citou Madureira, bairro da zona norte do Rio. "No centro de Madureira tem muito comércio e pequenos shoppings ali. Quem paga 50 merréis por mês, para alguém daquela área, não tem arrastão no shopping dele", afirmou.

Na última segunda (23), um grupo de milicianos coordenou o maior ataque a ônibus da história do Rio. Durante a ação, foram queimados 35 veículos, o que gerou um prejuízo estimado em R$ 38 milhões.

Os ataques ocorreram após a morte de um dos líderes da Milícia do CL, o maior grupo do estado. Na terça (24), Bolsonaro classificou a destruição dos ônibus como de terrorismo.

"Passamos 4 anos sem MST [Movimento dos Sem Terra], greves generalizadas e atos de terrorismo como os de ontem no Rio de Janeiro [ônibus incendiados]. Apenas nos presídios o resultado das eleições foi comemorado", afirmou ele nas redes sociais.

Em 2008, quando era deputado federal, Bolsonaro criticou a CPI das Milícias, realizada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para investigar a atuação desses grupos.

Ele afirmou na época que alguns policiais militares eram confundidos com milicianos por organizar a segurança da própria comunidade, mas que não praticavam extorsão.

"Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de 'gatonet', venda de gás ou transporte alternativo", afirmou.

Reportagem da Folha mostrou nesta semana que grupos criminosos de milicianos no Rio faturam com o monopólio de serviços, como internet e gás de cozinha, com controle sobre prostituição e com a extorsão de todo tipo de comércio, incluindo a venda de gelo nas praias e de vassoura na zona oeste.

A família Bolsonaro expressou várias vezes histórico de defesa a esses grupos e relações próximas com pessoas acusadas de integrá-los.

À época da criação da CPI das Milícias, o seu filho, o hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também minimizou a gravidade desses grupos.

"[O policial militar] É muito mal remunerado, precisa buscar outras fontes e vai então fazer segurança privada, vai buscar atividades que muitas vezes são reprováveis pela opinião pública, pela imprensa", disse na Assembleia. Na época, Flávio era deputado estadual.

"Não raro é constatada a felicidade dessas pessoas que antes tinham que se submeter à escravidão, a uma imposição hedionda por parte dos traficantes e que agora pelo menos dispõem dessa garantia, desse direito constitucional, que é a segurança pública", disse o filho do presidente.

Quando era deputado estadual, Flávio fez em 2005 uma homenagem com a mais alta honraria da Assembleia para o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, morto em 2020.

Bolsonaro disse que foi ele que pediu a homenagem a Nóbrega —suspeito de ter liderado o Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel que tinha ligação milícias e com o jogo do bicho. .

"Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo. Naquele ano ele era um herói da Polícia Militar", afirmou o então presidente em 2020, após a morte de Nóbrega.

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