O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que classificou o recente ataque a ônibus provocado por milícias no Rio de Janeiro de terrorismo, já exaltou a atuação desses grupos e disse que shopping que pagava para miliciano não tinha arrastão.
A referência foi feita em 2018, quando era candidato à Presidência, durante uma entrevista à rádio Jovem Pan.
"Você tem que pensar que tem gente favorável à milícia", disse Bolsonaro na ocasião. "Que é a maneira que ele tem de se ver livre da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência", continuou.
O ex-presidente citou Madureira, bairro da zona norte do Rio. "No centro de Madureira tem muito comércio e pequenos shoppings ali. Quem paga 50 merréis por mês, para alguém daquela área, não tem arrastão no shopping dele", afirmou.
Na última segunda (23), um grupo de milicianos coordenou o maior ataque a ônibus da história do Rio. Durante a ação, foram queimados 35 veículos, o que gerou um prejuízo estimado em R$ 38 milhões.
Os ataques ocorreram após a morte de um dos líderes da Milícia do CL, o maior grupo do estado. Na terça (24), Bolsonaro classificou a destruição dos ônibus como de terrorismo.
"Passamos 4 anos sem MST [Movimento dos Sem Terra], greves generalizadas e atos de terrorismo como os de ontem no Rio de Janeiro [ônibus incendiados]. Apenas nos presídios o resultado das eleições foi comemorado", afirmou ele nas redes sociais.
Em 2008, quando era deputado federal, Bolsonaro criticou a CPI das Milícias, realizada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para investigar a atuação desses grupos.
Ele afirmou na época que alguns policiais militares eram confundidos com milicianos por organizar a segurança da própria comunidade, mas que não praticavam extorsão.
"Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de 'gatonet', venda de gás ou transporte alternativo", afirmou.
Reportagem da Folha mostrou nesta semana que grupos criminosos de milicianos no Rio faturam com o monopólio de serviços, como internet e gás de cozinha, com controle sobre prostituição e com a extorsão de todo tipo de comércio, incluindo a venda de gelo nas praias e de vassoura na zona oeste.
A família Bolsonaro expressou várias vezes histórico de defesa a esses grupos e relações próximas com pessoas acusadas de integrá-los.
À época da criação da CPI das Milícias, o seu filho, o hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também minimizou a gravidade desses grupos.
"[O policial militar] É muito mal remunerado, precisa buscar outras fontes e vai então fazer segurança privada, vai buscar atividades que muitas vezes são reprováveis pela opinião pública, pela imprensa", disse na Assembleia. Na época, Flávio era deputado estadual.
"Não raro é constatada a felicidade dessas pessoas que antes tinham que se submeter à escravidão, a uma imposição hedionda por parte dos traficantes e que agora pelo menos dispõem dessa garantia, desse direito constitucional, que é a segurança pública", disse o filho do presidente.
Quando era deputado estadual, Flávio fez em 2005 uma homenagem com a mais alta honraria da Assembleia para o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, morto em 2020.
Bolsonaro disse que foi ele que pediu a homenagem a Nóbrega —suspeito de ter liderado o Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel que tinha ligação milícias e com o jogo do bicho. .
"Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo. Naquele ano ele era um herói da Polícia Militar", afirmou o então presidente em 2020, após a morte de Nóbrega.
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