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violência

Sem socorro, grito ou choro: assassinato dos médicos revela uma sociedade doente

Cenas como estas só são vistas em países em guerra ou com graves conflitos

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Milton Steinman

Médico e cirurgião-geral e do trauma, é doutor em cirurgia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da USP)

Acordamos nesta quinta-feira (5) com uma notícia estarrecedora. Três médicos ortopedistas foram executados em um quiosque em um ataque a tiros na avenida da praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Uma quarta vítima, também médico, ficou ferida e está internada. O grupo estava na cidade para participar do 6º Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva do Pé e Tornozelo.

Um dos colegas passou a vida dentro do Hospital das Clinicas, onde prestava assistência a pacientes e se dedicava a alunos e residentes. Os demais eram médicos jovens que sonhavam em exercer a profissão que abraçaram.

Médicos aparecem em foto feita no quiosque no Rio de Janeiro
Médicos aparecem em foto feita no quiosque no Rio de Janeiro - Reprodução

Em poucas horas, recebi vários vídeos a respeito dessa tragédia. Aos poucos fui tomado por um misto de tristeza e profunda indignação. Certamente isto ocorre diariamente e atinge outros tantos inocentes Brasil afora.

Não é o fato de as vítimas serem médicos, que dedicam suas vidas a cuidar do próximo, que torna o caso mais ou menos emblemático e estarrecedor. Talvez, apenas mais cruel.

Ressalte-se aqui outro dado inimaginável, o crime pode ter ocorrido por "engano". As vítimas podem ter sido simplesmente confundidas. Como se não bastasse este enredo, ainda houve um segundo capitulo. Poucas horas após o crime, o equívoco é "corrigido" e a polícia encontra quarto corpos que seriam dos suspeitos de terem cometido a barbárie. O poder paralelo desfez o mal-entendido.

A segurança pública está no centro das nossas preocupações e estamos atravessando uma grave crise. Não existe outra pauta a ser debatida. Estamos passando por um processo de "mexicanização" do Brasil e isto merece uma urgente e profunda discussão.

Cenas como estas só são vistas em países em guerra ou com graves conflitos. Além disso, salta aos olhos uma sensação lastimável sobre o valor da vida no Brasil. Poucos segundos após o ocorrido, as pessoas filmam e expõe os corpos sem a mínima consideração.

Não se vê nenhum socorro. Não se ouve um grito ou um choro. Não se percebe uma única lágrima. Horas após, segundo consta, o bar volta a funcionar como se nada tivesse acontecido.

Autoridades vêm a público para lamentar ou para politizar o ocorrido. O que se passa no Brasil é o reflexo de uma sociedade doente. É preciso que a sociedade civil se mobilize para exigir mudanças! Agora! Que as famílias e amigos encontrem forças para superar este terrível acontecimento!

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