Descrição de chapéu violência

Polícia encontra corpos de suspeitos de assassinar médicos no Rio

Cadáveres foram achados em dois pontos da zona oeste; polícia do Rio apura retaliação do Comando Vermelho

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Rio de Janeiro

As polícias do Rio de Janeiro encontraram na madrugada desta sexta (6) quatro corpos de suspeitos de terem, na véspera, assassinado a tiros três médicos em um quiosque da Barra da Tijuca, zona oeste.

De acordo com investigadores, os cadáveres dos suspeitos estavam em dois pontos distintos da zona oeste —na Gardênia Azul havia um corpo no porta-malas de um carro; outros três estavam em outro veículo próximo ao centro de convenções Riocentro.

Exames periciais apontaram a identidade deles como sendo Philip Motta Pereira, o Lesk, Ryan Nunes de Almeida, Thiago Lopes Claro da Silva e Pablo Roberto da Silva Reis. Lesk é um dos líderes de uma organização criminosa da Gardênia Azul.

Policiais em torno de carro prateado
Um dos carros onde corpos de suspeitos foram encontrados - Leitor

A polícia apura se eles foram mortos porque teriam confundido uma das vítimas da Barra, o ortopedista Perseu Ribeiro Almeida, 33, com Taillon de Alcantara Pereira Barbosa, 26, acusado pelo Ministério Público integrar a milícia de Rio das Pedras. Milicianos são criminosos que exploram o comércio local e cobram taxas de segurança ilegais, sob coação.

Além da fisionomia semelhante, Taillon mora em um apartamento localizado a 220 metros do quiosque Naná 2, onde ocorreu o crime, na orla da Barra. Ele conseguiu liberdade condicional no dia 26 de setembro.

Também morreram no ataque os médicos Marcos de Andrade Corsato, 62 e Diego Ralf de Souza Bomfim, 35. Eles estavam na cidade para participar de um congresso internacional de ortopedia. Único sobrevivente, Daniel Sonnewend Proença, 32, gravou um vídeo do hospital dizendo que está bem. Segundo o boletim, ele permanece lúcido, orientado e seu quadro clínico segue estável.

Conforme a Folha noticiou, a polícia apura se o Comando Vermelho matou os narcomilicianos envolvidos no assassinato dos médicos após terem conhecimento de que eles atiraram em inocentes.

A chamada narcomilícia onde Lesk atuava surgiu a partir de 2021, quando houve uma ruptura interna na milícia da região. Enfraquecido, o miliciano procurou apoio com traficantes da Cidade de Deus, na zona oeste, área de domínio do Comando Vermelho.

Uma aliança foi firmada, então, entre os ex-integrantes da milícia e o tráfico, gerando o que a polícia chama de narcomilícia na Gardênia, com a liderança tanto de milicianos locais quanto de traficantes do Comando Vermelho. Os traficantes têm os complexos da Penha e do Alemão como base principal.

O objetivo do CV com a aliança, segundo investigação, é a conquista de Rio das Pedras. O lucro com a exploração das vans chega a R$ 3 milhões por mês, estima um delegado. Assim, os narcomilicianos da Gardênia Azul são rivais dos milicianos daquela localidade, quadrilha da qual Taillon é suspeito de integrar.

Após a aliança, Lesk foi rebatizado de CR7 e foi obrigado a seguir o estatuto do CV. Nele, há uma lista de regras que os integrantes subordinados à facção têm de seguir, entre eles está "não caguetar" e "não acusar em vão".

Três delegados que atuam no combate às quadrilhas de drogas afirmaram à reportagem que a morte dos suspeitos de assassinato dos médicos partiu das regras do CV.

A justificativa seria a de que a facção não poderia entregá-los vivos porque seria "caguetar". Ainda em uma espécie de "tribunal do tráfico", que contou com aval da cúpula do CV, os narcomilicianos teriam sido sentenciados pelo erro cometido em tirar a vida de inocentes.

Assim, traficantes deixaram os corpos dos suspeitos em pontos distintos da zona oeste, para evitar operações em suas áreas. Há a suspeita de que as mortes teriam ocorrido no Complexo da Penha. A outra possibilidade apurada é de que os assassinatos a facadas e tiros dos suspeitos tenham ocorrido na Cidade de Deus.

A expansão dos domínios do Comando Vermelho que fez alianças com ex-milicianos provocou diversas mortes na zona oeste do Rio. Somente em uma rua, 14 homicídios ocorreram nos seis primeiros meses do ano

O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), confirmou que a Polícia Civil considera que os três médicos mortos na Barra foram assassinados por engano. Ele declarou que a polícia vai manter as investigações do caso e punir os responsáveis pelo homicídio dos quatro suspeitos pelo crime.

"Garanto que as investigações continuam. Não vai parar por aqui. [...] Se eles acharam que iam punir os próprios e ia acabar, isso não vai acontecer. Inclusive para que cheguem nessa guerra de tráfico com milícia. Se a motivação foi essa, mais ainda temos que investigar e combater", disse ele.

O governador afirmou que a motivação política para o crime "está completamente descartada" —uma das vítimas era o irmão da deputada Sâmia Bomfim (PSOL).

"Estamos falando de uma verdadeira máfia, muito maior do que outrora foi o tráfico de drogas e de armas. Uma máfia que tem entrado nas instituições, nos poderes, no comércio, nos serviços, e inclusive no sistema financeiro nacional. Cada dia mais possui suas próprias estruturas, inclusive tribunais", disse Castro.

Colaborou Italo Nogueira, do Rio

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