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Tuk-tuks agora fazem entregas em SP, após proibição do transporte de passageiros

Empresa de triciclos elétricos quer concorrer com serviços de motos e carros após perder disputa na Justiça

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São Paulo

Os triciclos verdes, de cabine fechada e que parecem carros espremidos estão de volta às ruas da região central de São Paulo, como alguns moradores já perceberam. Depois de a prefeitura proibir o transporte de passageiros com esses veículos, também chamados de tuk-tuks, eles agora fazem entregas de encomendas para empresas e clientes individuais.

Há pouco mais de um mês, a empresa Grilo opera 21 veículos elétricos que fazem entregas em uma região de 6,7 km² que abrange os bairros de Higienópolis, Consolação, Cerqueira César, Jardim Paulista e Paraíso. Eles se dividem entre serviços prestados a companhias parceiras e pessoas que os acionam por meio de aplicativo.

A decisão de focar nas entregas veio após ficar claro que a empresa tinha perdido a disputa judicial para liberar o transporte de passageiros em São Paulo. Em maio, a Justiça decidiu que a proibição da prefeitura deveria prevalecer até que exista "um mínimo de regulamentação" sobre o tema. Hoje o caso está transitado em julgado —ou seja, não cabe recurso.

Dois veículos com portas verdes e capô branco, com uma roda dianteira e duas traseiras, em alta velocidade num estacionamento
Proibidos pela prefeitura para o transporte de passageiros, tuk-tuk agora fazem entregas no centro de São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) vivia, à época, um embate com o UberMoto e a 99Moto, serviços que ofereciam transporte de passageiros em motocicletas. A Grilo entrou no bojo meses depois, apesar dos veículos terem cabine fechada.

"A gente é uma startup, fizemos um investimento grande para entrar em São Paulo e, mesmo que a gente insistisse, tivemos todos os sinais que não iríamos conseguir trazer para cá aquilo que acreditamos", disse o sócio-fundador da empresa, Carlos Novaes. "Mudamos no momento que entendemos isso."

Hoje, os tuk-tuks só transportam passageiros de empresas que façam parcerias com a Grilo. Esse serviço não é mais oferecido ao público de São Paulo, só as entregas. Mas a lógica de viagens curtas e rápidas —por isso há uma área delimitada na cidade— se mantém.

Rápidas, mas não apressadas: a velocidade máxima dos triciclos é 50 km/h. Segundo Novaes, o limite é justamente uma das vantagens em relação em relação às entregas convencionais de moto. Produto e condutor chegam inteiros no destino, ele garante, o que contrasta com cenas comuns de motociclistas furando farol vermelho e fazendo conversões proibidas em alta velocidade.

Na capital, um total de 240 pessoas morreram em acidentes envolvendo motos até agosto —último mês com dados disponíveis no Infosiga, sistema de monitoramento de acidentes de trânsito do governo estadual. Já o sócio-fundador da Grilo afirma que, em cerca de quatro anos e com quase quase um milhão de quilômetros rodados, não houve nenhum acidente com pessoas feridas envolvendo os tuk-tuks.

Outra vantagem seria o volume de mercadorias que o veículo consegue transportar. A capacidade é de até 200 quilos e também há espaço no banco de trás para objetos maiores, de 75 centímetros de profundida, um metro de largura e um metro de altura.

A empresa já tem alguns clientes fixos, como uma rede de farmácias e uma de supermercados. O empresário Dalton Higasi Sales, 40, dono de uma padaria artesanal na Bela Vista, contratou os serviços após ver os tuk-tuks circulando pela região central da cidade.

Duas vezes ao dia, ele precisa retirar os folhados da sua fábrica de pães e levá-los diretamente para a vitrine. Até o mês passado, ele já havia contratado os serviços de seu próprio irmão, do porteiro de seu prédio e de uma empresa que faz entrega com carros.

"Achei muito bacana o fato de ser elétrico, tem a ver com estilo da minha padaria, que é artesanal, a gente se preocupa em utilizar o mínimo possível de plásticos e causar o menor impacto no meio ambiente possível", disse Sales.

A prefeitura, por meio do Comitê Municipal de Uso do Viário, ressaltou que a suspensão municipal afeta apenas o transporte de passageiros por motos e triciclos, mas não as entregas de mercadorias. O órgão disse que estuda a melhor forma de regulamentar os serviços de entregas por meio de aplicativos.

Mesmo após a proibição, a Grilo insiste que o veículo é seguro para os passageiros e que, mesmo reconhecendo a necessidade de regulação, é necessário deixar espaço para a inovação. "Essa solução iria entregar muito a São Paulo: menos poluição sonora, menos poluição atmosférica, e atender a necessidade das pessoas de fazer o 'first mile' (primeira milha, o trajeto de casa ou do trabalho até o transporte público) de forma acessível e segura."

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