Descrição de chapéu Quilombos do Brasil

Cemitério quilombola é reconhecido como sítio arqueológico no Tocantins

O local tem variedade de tipos de lápides construídas com pedras pelos moradores

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Salvador e São Paulo

O cemitério quilombola Campo Santo do Bom Jardim, em Lagoa do Tocantins (TO), foi reconhecido como sítio arqueológico histórico pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O reconhecimento, oficializado no dia 9 deste mês, após vistorias e estudos de campo, significa que o cemitério passa a ser considerado um patrimônio cultural brasileiro, de acordo com o artigo 216 da Constituição.

Os quilombolas Manoel Jr. e João Pedro Gomes no cemitério centenário Campo Santo, no Tocantins. - Divulgação/Governo do Tocantins

O título representa proteção à área e valorização do patrimônio imaterial da região, a pedido da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais do estado.

O Campo Santo fica na comunidade quilombola Rio Preto, que sofre com queixas de ameaças e conflitos com fazendeiros locais que se instalaram na região. Segundo o Iphan, possui variedade de tipos de lápides que podem refletir as relações dos quilombolas ao longo dos últimos 100 anos.

As lápides eram construídas com pedras pelos próprios moradores.

O local foi utilizado pela comunidade ao longo do século 20, sendo 1919 a data mais antiga identificada.

A preservação dos cemitérios faz parte da cultura local, com rituais mantidos pelas famílias.

Os moradores também compartilham ritos ancestrais como a festa de santo, o bendito —orações em formato de cantigas—, e o lundu, dança africana com significado espiritual.

Para estabelecer a localização e a dimensão exatas do cemitério, foram realizados levantamento fotográfico, registro da história e da tradição oral da comunidade e georreferenciamento do Campo Santo.

Como patrimônio cultural brasileiro, o cemitério será tutelado e protegido pelo poder público. Eventuais danos ao local serão considerados crime ambiental, com penas de multa e detenção.

Os quilombolas dizem ser alvos constantes de ataques provocados pela disputa de território com fazendeiros da região.

Em outubro, a comunidade recebeu a certificação da Fundação Cultural Palmares, primeira etapa do processo de titulação de um quilombo.

No Tocantins existem 48 quilombos, nenhum titulado, segundo o governo do estado. O Rio Preto deu entrada no processo de titulação no Incra no mesmo dia em que recebeu o certificado da Fundação Palmares.

Em nota da secretaria, o Iphan explicou que aspectos como a referência à memória da comunidade e a variedade de tipos de lápides no Campo Santo refletem as relações sociais dos quilombolas ao longo dos últimos cem anos, características que levaram ao reconhecimento do cemitério enquanto sítio arqueológico.

Por meio das técnicas arqueológicas de reconhecimento da área, o instituto constatou que a comunidade aplicou, ao longo do tempo, uma série de técnicas construtivas para fazer as sepulturas.

Pedras aparelhadas, pedras simples e pedra canga, indicação de área com estacas de madeira e jazigos com encaixes de pedra feitos à mão são alguns dos elementos encontrados nas sepulturas, cujas datas mais antigas são de 1919.

HISTÓRICO

A comunidade do Rio Preto enterra há mais de cem anos seus ancestrais no cemitério Campo Santo. As visitas do Iphan junto ao governo do estado para coletar informações sobre o local histórico foram feitas em outubro, quando iniciaram os procedimentos para torná-lo sítio arqueológico.

No passado, as lápides eram construídas com pedras pela própria comunidade. Atualmente, o método não é mais utilizado, mas ainda é possível encontrar as antigas lápides e os túmulos envoltos em árvores.

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