Descrição de chapéu Quilombos do Brasil

Quilombo do Tocantins acusa fazenda de promover ataques e proibir circulação de moradores

OUTRO LADO: Fazenda Lagoa Dourada diz desconhecer episódios de intimidação; policiamento foi reforçado no local

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Salvador

Casa de um cemitério quilombola centenário, o quilombo Rio Preto, em Lagoa do Tocantins (TO), tem sofrido ameaças de fazendeiros da região, segundo os moradores.

Os quilombolas afirmam que o empreendimento Lagoa Dourada Participações e Serviços, ligado à Fazenda Lagoa Dourada, instalou placas proibindo a entrada de pessoas na área no dia 1° de novembro. Uma semana antes, em 25 de outubro, a comunidade recebeu a certificação da Fundação Cultural Palmares, primeira etapa do processo de titulação de um quilombo.

"Ficamos muito assustados. Já tem cinco meses que algumas pessoas da comunidade não conseguem dormir e ficar nas suas casas, porque queimaram e derrubaram casas próximas, passaram o trator por cima", afirma Rita Lopes dos Santos, 34, presidente da Associação Quilombola Rio Preto.

Fazenda instala placas impedindo entrada em área que pertenceria ao quilombo Rio Preto, no município de Lagoa do Tocantins (TO) - Associação Quilombola Rio Preto

Segundo ela, o ataque mais recente ocorreu no fim de semana de 23 e 24 de setembro, quando a comunidade foi surpreendida com disparos de arma de fogo nas proximidades das residências. Houve também tentativa de incendiar uma moradia, e as chamas foram controladas pelos moradores.

A Secretaria da Segurança Pública do Tocantins afirma que reforçou o policiamento no local e que está investigando as ocorrências.

Procurada, a defesa da Fazenda Lagoa Dourada diz desconhecer casos de ataque e intimidação e afirma que as placas são anteriores à certificação. Afirma, ainda, que tanto a fazenda como as placas estão situadas no lote 173, a 4 km do lote 172, que aponta ser a localização do quilombo.

A Defensoria Pública do Estado do Tocantins diz, porém, que de acordo com uma decisão da Justiça a comunidade tem direito à posse dos lotes 172 e 173. E ressalta que a certificação permitirá o avanço no processo de demarcação do território tradicional pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

A Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins (Sepot) diz que acompanha a comunidade desde agosto e que no dia 4 de setembro organizou uma caravana com autoridades para verificar a situação dos quilombolas. Afirma também que, no dia seguinte, um relatório da visita foi entregue ao ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, e à ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

A Sepot diz ainda que orientou a associação de moradores da comunidade a sanar pendências legais e solicitar a certificação junto à Fundação Palmares para garantir a proteção da população quilombola. A questão já foi tema de audiência da qual participaram o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), o ministro da Justiça, Flávio Dino, e a presidente da associação de moradores.

A disputa pelo território encontra-se na Justiça e, após o reconhecimento de Rio Preto como comunidade remanescente de quilombo, o processo passou da competência da Justiça estadual para a federal.

No Tocantins existem 48 quilombos, nenhum titulado, segundo o governo do estado. O Rio Preto deu entrada no processo de titulação no Incra no mesmo dia em que recebeu o certificado da Fundação Palmares.

CEMITÉRIO HISTÓRICO

O quilombo Rio Preto abriga o cemitério Campo Santo, um cemitério histórico de escravizados que é cuidado pelos moradores. Há mais de cem anos os ancestrais da comunidade são enterrados no cemitério Campo Santo, que poderá se tornar um sítio Arqueológico.

O governo do estado e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) visitaram a região para coletar informações sobre o local.

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford

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