Descrição de chapéu chuva

Enel descumpre prazo, e 11 mil imóveis seguem sem luz na Grande SP

Diretor de concessionária afirma que 'parte pequena' da população é afetada e que 95% dos casos de falta de energia na sexta ocorreram por queda de árvores

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São Paulo

Mais de 110 horas após um temporal com ventos acima de 100 km/h atingir o estado de São Paulo, cerca de 11 mil imóveis continuavam, às 10h desta quarta (8), sem energia elétrica na região metropolitana da capital. O balanço foi informado pela concessionária de energia elétrica Enel em entrevista coletiva.

Do total de domicílios e unidades comerciais sem energia no início do sexto dia de apagão, 4.600 estão na capital paulista. As cidades de Embu das Artes e Cotia, na Grande São Paulo, eram cerca de 3.000 cada uma nessa situação.

O apagão começou no meio da tarde da última sexta (3), o que implica dizer que ainda há milhares de pessoas sem luz há quase seis dias. Pela manhã, a empresa esperava zerar o número de interrupções do serviço até o fim da tarde.

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Arvore caída e fiação elétrica rompida na rua Maria Figueiredo, no bairro Paraíso, na região central de SP; 14 mil domicílios seguem sem luz na região metropolitana - Rubens Cavallari - 6.nov.2023/Folhapress

Questionado sobre a rapidez no atendimento, Max Xavier Lins, diretor presidente da Enel SP, disse que a empresa havia se preparado para uma tempestade menor na sexta-feira. A previsão, segundo Lins, era que a ventania chegasse a 55 km/h, mas a velocidade chegou a quase o dobro disso.

"Quando a gente se prepara para uma tempestade de 55 km/h e vem uma tempestade de 104 ou 105 km/h não é como se tivéssemos duas chuvas 50 km/h. A intensidade é exponencial", disse o executivo.

Ele afirmou que a companhia tinha 300 equipes de manutenção mobilizadas na sexta, pois já havia uma expectativa de queda de árvores. Lins diz que o número de equipes subiu para 900 e agora há 1.200 nas ruas –em cada uma, há em média sete funcionários.

Funcionários do Rio de Janeiro e do Ceará agora reforçam o efetivo, segundo ele. "A reação foi muito forte e muito rápida. Nós triplicamos [o número de equipes]", disse Lins.

O executivo afirmou que agora há uma "parte pequena" da população ainda afetada pela ventania, e que isso ocorre porque o trabalho para rodar a energia nesses locais é mais complexo. São fios de baixa tensão, segundo o executivo, e cada uma abastece porções menores do território.

"Precisamos 'pinçar' cada um desses locais", disse Lins. Segundo o executivo, 95% das ocorrências de queda de energia na sexta-feira ocorreram por queda de árvores.

Já os casos de apagão posteriores à ventania têm diversos motivos, e nem todos estão relacionados a chuva e mau tempo, segundo Lins. "Gostaria de tratar esses dois números de forma separada", disse.

O presidente da Enel Distribuição SP disse que mais de 100 quilômetros de novos cabos de média tensão foram instalados em toda a região metropolitana. "É mais do que a extensão de São Paulo até Campinas", lembrou –a distância entre as duas cidades é de 98 quilômetros.

No total, o apagão tingiu 2,1 milhões de clientes da Enel em 24 cidades da região metropolitana.

Em todo o estado, o número de domicílios afetados em algum momento após a chuva chegou a 4,2 milhões.

Desde o fim de semana, a empresa tem dito que iria normalizar o fornecimento de energia "para quase a totalidade dos clientes até esta terça".

DEMORA EM RELIGAÇÃO GERA REVOLTA

A falta de energia provocou uma série de protestos na capital paulista e na Grande São Paulo. Na manhã desta quarta-feira, moradores de Sapopemba faziam um protesto pela volta da energia na avenida Custódio de Sá e Faria, segundo a Polícia Militar.

Outro protesto ocorreu na noite de terça na Vila Leopoldina, na zona oeste. Moradores de um condomínio da rua Carlos Weber, que estava há mais de quatro dias sem luz, fecharam uma parte da via com galhos de árvores e gritaram palavras de ordem por volta das 19h. A falta de energia também afetou estabelecimentos comerciais nas ruas Brentano e Nanuque por mais de 96 horas, de acordo com moradores.

Moradores bloqueiam avenida Giovanni Gronchi em protesto contra a falta de energia, na noite desta terça (8) - Reprodução

Segundo Sandra Brait, 56, proprietária de uma lavanderia vizinha aos imóveis afetados, a luz só voltou no local por volta das 9h desta quarta, ou seja, o bairro está entre os locais em que a promessa da Enel de retorno da energia foi descumprida.

Brait apoiou o protesto e contou que já teve prejuízos por causa de ligações elétricas malfeitas na lavanderia pela Enel. "É uma serie de erros, a gente tem uma gestão péssima, incompetente, porque tem poucos técnicos. Não conseguem nem fazer a fiscalização correta", diz a proprietária.

Na região do Morumbi, entre as zonas oeste e sul de São Paulo, um policial militar ficou ferido durante a manifestação na avenida Giovanni Gronchi. Em Cotia, moradores chegaram a fechar uma pista da rodovia Raposo Tavares. Um policial militar foi ferido com um tiro.

Concessionária é alvo de prefeitura, Promotoria e parlamentares

Após a tempestade, a concessionária de energia elétrica torno-se alvo de vários procedimentos em esferas do Executivo, Legislativo e Judiciário.

Nesta quarta, a Prefeitura de São Paulo informou que vai processar a empresa por causa da falta de energia. Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a Procuradoria-Geral do Município entrará com ação civil pública por descumprimento de acordo da empresa com a capital paulista e de outras normas legais.

Já o Ministério Público de São Paulo propôs que a Enel pague uma indenização aos donos dos 2,1 milhões de imóveis atendidos pela concessionária no estado e que ficaram sem luz.

O presidente da Enel Distribuição SP foi convocado nesta quarta para depor em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa de São Paulo. O presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, também foi convocado. Os deputados estaduais devem questioná-los sobre a redução no quadro de funcionários da empresa.

Lins ressaltou que a comissão foi instaurada em maio e ele já foi em uma reunião no mês passado. "Voltaremos quantas vezes a comissão parlamentar nos convoque para prestar todo esclarecimento", ele disse.

Além disso, vereadores da Câmara Municipal de São Paulo também aprovaram a abertura de uma CPI para investigar a prestação de serviço da Enel na cidade. Isso ocorre apesar de a concessão dos serviços de distribuição de energia ser federal e regulada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Em nota, a Enel afirma que prestará todas as informações necessárias às autoridades. "A companhia acrescenta que mantém uma relação de transparência com seus clientes e todos os seus públicos e está fortemente comprometida em oferecer um serviço cada vez melhor à população", declarou.

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