Descrição de chapéu Obituário João Henrique Vieira de Azevedo (1954 - 2023)

Mortes: Gostava de política, clássicos do cinema e do Santos

Extremamente culto, jornalista dava lições nas conversas políticas com os amigos

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São Paulo

Religião, futebol e política não se discute em mesa de bar. Para o jornalista João Henrique Vieira de Azevedo, a parte religiosa do ensinamento popular até poderia ficar de fora do papo. Mas as outras, não.

Gêmeo idêntico de Helvécio (que se tornaria professor), nasceu em Bocaina, município da região central de São Paulo, atualmente com pouco mais de 11 mil habitantes.

Ainda criança, se mudou com a família para Santana, na zona norte da capital paulista, pois o pai, farmacêutico, havia conseguido trabalho na cidade.

Homem com jaqueta cinza sorri
O jornalista João Henrique Vieira de Azevedo morreu no último dia 18 de outubro em Bocaina (SP), aos 69 anos - Arquivo pessoal

Bom de bola, na adolescência dividia o futebol com o estudo. Graças a ele acabou aprovado no vestibular da USP (Universidade de São Paulo), na qual fez sua graduação em jornalismo e começou cada vez mais a pegar gosto pelo noticiário político.

Formado, trabalhou em jornais da cidade. Depois foi empregado no time de assessores de Orestes Quércia (1938-2010), que governou São Paulo de 1987 a 1991.

No início dos anos 2000, ajudou a organizar uma caminhada sindicalista de 40 dias a Brasília para pressionar pelo aumento do salário mínimo.

Apesar da efervescência política da qual fazia parte, Azevedo voltou ao interior para cuidar da mãe, que havia retornado a Bocaina após a morte do marido, em 1995.

Durante dois mandatos, trabalhou com o primo João Francisco Bertoncello Danieletto, o Kiko, prefeito da cidade de 2005 a 2012.

A veia jornalística, entretanto, pulsava. Assim, logo depois Azevedo montou o Jornal da Bocaina, que fazia sozinho e distribuída de graça.

Extremamente culto e de muita leitura, era fã de cinema e assistia a um mesmo clássico inúmeras vezes —um de seus filmes favoritos era o clássico "Casablanca", de 1942.

De vida simples, gostava de tomar cerveja e de comer torresmo com os amigos, sempre à base de uma boa prosa sobre o Santos, seu time do coração, e de política, claro. "Mas ele nunca brigou por isso, era discussão em alto nível", afirma o primo.

Azevedo tinha uma vontade de viver impressionante. "Vibrava com uma aplicação de quimioterapia, mesmo passando mal depois, pois ela lhe dava esperança", completa, sobre o câncer no intestino, descoberto há três anos, que teve metástases depois no pulmão e no cérebro.

A última edição de seu jornal, a de número 100, circulou no dia 28 de setembro.

Sob efeito de morfina devido ao tratamento, escreveu um breve currículo seu no editorial da publicação. No texto, também reproduziu trecho da poesia "O Lutador", de Carlos Drummond de Andrade: "Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã".

Divorciado, João Henrique Vieira de Azevedo morreu no último dia 18 de outubro, aos 69 anos. Deixa um filho.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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