Descrição de chapéu Obituário Luiza Maria da Silva (1959 - 2023)

Mortes: Herdou talento com barro e divulgou fauna nordestina

Luiza dos Tatus era mestre do artesanato pernambucano e gostava de contar causos

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Juazeiro (BA)

Em um ateliê do povoado Sítio Rodrigues, em Belo Jardim (PE), o barro vira artigo de decoração em formato de bichos. Os modelos, criados pela mestra Luiza dos Tatus, são moldados por sua família. Cobras, iguanas e outras espécies do agreste pernambucano ganharam o mundo, chegando até países como Japão e Argentina.

Os tatus, que viraram seu sobrenome, são suas peças mais famosas. Seu diferencial é que a carapaça pode ser retirada, deixando o animal nu.

Filha e neta de louceiras, Luiza Maria da Silva aprendeu a trabalhar com barro ainda criança, aos 9 anos. O povoado em que nasceu e viveu tem tradição na manufatura de panelas. A matéria-prima é retirada do rio Ipojuca, que corta a região.

Luiza Maria da Silva (1959 - 2023)
Luiza Maria da Silva (1959 - 2023) - Leitor

O trabalho, que começou na infância, era o sustento de casa. "Tinham que trabalhar bastante para arranjar o que comer", afirma a filha Maria José da Silva Carvalho, 38, conhecida como Carol.

Na mesma comunidade, conheceu o marido que virou parceiro de produção. João José pintou as peças de Luiza durante os mais de quarenta anos juntos. Tiveram cinco filhos, todos sustentados com o artesanato e seguidores do ofício.

A realidade da comunidade mudou com a visita da artista plástica Ana Veloso, entre 2006 e 2009, que incentivou experimentarem outros formatos. As novas criações foram destaque em eventos do setor.

Luiza ficou orgulhosa de ver suas peças ganharem alto valor, bem diferente de quando sua mãe ia às feiras livres da cidade vender panelas e pratos por um ou dois reais.

As feiras de artesanato eram sua paixão e um sonho realizado, dizia virar uma criança perdida na imensidão e ali se reconhecer artista. "Ela quase não ficava no nosso estande. Observava tudo e ia tentar fazer o que via", afirma a filha.

Em 2020, Luiza dos Tatus se tornou mestra do artesanato. Foi a terceira da localidade, onde também residem as mestras Cida Lima e Neguinha, suas primas.

Suas histórias reuniam turmas ao seu redor para escutá-las. "Era uma criança, gostava de brincadeiras. Quando estava trabalhando, era com os netos todos juntos, mexendo no barro e ela ensinando", diz a filha.

Luiza tomava remédios para pressão alta há cinco anos. Morreu aos 64, no dia 24 de outubro, após uma parada cardiorrespiratória. A artesã moldava sua derradeira peça em barro em seu ateliê quando desmaiou. "Se eu morrer aqui, morro feliz", sempre dizia.

A família, aos poucos, tenta voltar ao ateliê e dar continuidade ao legado de Luiza dos Tatus. Ficaram o marido e os cinco filhos, José Cícero, José Ivanildo, Maria José, Maria da Conceição e Maria Luzia, além de 10 netos e um em gestação.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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