Descrição de chapéu Obituário Tymbektodem Arara (1984 - 2023)

Mortes: Lutou pela cultura e bem-estar do povo arara

Tymbektodem Arara denunciou na ONU invasões à Terra Indígena Cachoeira Seca, no Pará

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Francisco Lima Neto Natashia Santana
São Paulo e Santarém (PA)

Da linhagem de corajosos e grandes guerreiros indígenas, Tymbektodem Arara, conhecido como Tymbek, seguiu seus ancestrais e dedicou sua vida à preservação das terras e dos costumes e modo de vida de seu povo.

Tymbek nasceu em 1º de janeiro de 1984, na aldeia Iriri, do povo arara, na Terra Indígena Cachoeira Seca, em Altamira, no Pará. Apenas em 1987 ocorreu o primeiro contato de seu grupo étnico com pessoas de fora da aldeia.

"Ele sempre lutou pela defesa de seu povo, era o presidente da Associação Arara Kowit", diz o indigenista Daniel Lopes Faggiano, diretor executivo do Instituto Maíra, organização sem fins lucrativos que atua junto a povos indígenas. "Tymbektodem era um guerreiro corajoso e incansável. Lutou contra impactos socioambientais e violações de direitos humanos causados pela usina hidrelétrica de Belo Monte."

Tymbektodem Arara (1984 - 2023)
Tymbektodem Arara (1984 - 2023) - Divulgação/Instituto Maíra

A terra dos araras é constantemente invadida e alvo de grupos que querem explorar suas riquezas, em especial a madeira, em detrimento dos danos sociais e ambientais que causam.

"O principal objetivo de Tymbek era a retirada das mais de 3.000 famílias não indígenas que vivem ilegalmente dentro da Terra Indígena Cachoeira Seca. Importante destacar que a Cachoeira Seca é uma das terras indígenas mais desmatadas do Brasil", ressalta Faggiano.

Nos últimos anos, Tymbek viajou para lugares como Belém e Brasília para participar de reuniões com deputados, senadores, ministros e embaixadores para defender os direitos dos povos indígenas.

Ele era visto como um guardião das tradições de seu povo: professor de apoio pedagógico na escola da aldeia e também linguista oficial da etnia, atuando, por exemplo, no contato com os não indígenas.

No último dia 28 de setembro, Tymbek esteve na sede da ONU (Organização das Nações Unidas), em Genebra, na Suíça, onde fez um discurso denunciando as violações dos direitos humanos impostas ao seu povo.

O líder indígena constantemente recebia ameaças de morte, que se intensificaram nos últimos meses, atribuídas a fazendeiros da região. Mesmo durante a viagem à ONU as ameaças continuaram.

No retorno ao Brasil, agentes da Força Nacional o escoltaram até a aldeia. Dias depois, em 14 de outubro, Tymbek morreu afogado no rio Iriri, aos 39 anos. As circunstâncias da morte são investigadas pela Polícia Federal.

"Ele era uma pessoa que cuidava de todos e sempre se preocupou em defender o rio, a natureza e os seres vivos deste planeta. Lutava contra a destruição da natureza e pela preservação da vida. Lutava por um mundo melhor", diz o amigo Faggiano.

Tymbek deixou a esposa, Adoum, as filhas Kaiana, Taylem e Mariká Arara, os pais e cinco irmãos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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