Descrição de chapéu Obituário Idibal Matto Pivetta (1931 - 2023)

Mortes: Uniu os talentos para defender a justiça, a arte e a cultura

Torturado pela ditadura, Idibal Matto Pivetta virou também César Vieira

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São Paulo

Um homem com tantas facetas, que teve dois nomes diferentes. O direito, o jornalismo, o teatro, a música e a luta pelos direitos humanos conviviam harmonicamente dentro de Idibal Matto Pivetta, que também era César Vieira, e vice-versa.

Nasceu Idibal, em Jundiaí, interior de São Paulo, em 28 de julho de 1931. Formou-se em direito e em jornalismo, além de ter estudado na Escola de Artes Dramáticas da USP.

Em 1969, junto de amigos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, fundou o grupo Teatro União e Olho Vivo, que se mantém em atividade até hoje.

Idibal Matto Pivetta ou César Vieira (1931 - 2023)
Idibal Matto Pivetta ou César Vieira (1931 - 2023) - Arquivo Pessoal

Dedicou parte da vida à dramaturgia popular e ao teatro de resistência. Com isso, acumulou prêmios como o de melhor autor nacional da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

No campo jurídico, defendeu presos políticos durante a ditadura militar. Detido pelo DOI-Codi, foi preso e torturado. Foi nesse contexto que surgiu César Vieira.

"Os textos dele passaram a ser censurados na ditadura por ele ser advogado de presos políticos. Os textos contando histórias do país, a história do povo negro. Ele criou um outro nome, que foi o César Vieira. Mas, logo já descobriram, passaram por uma série de cortes e censuras de cenas, até o grupo ser preso, até ele mesmo ser preso", conta o filho, Lucas César de Moraes Pivetta, conhecido como Cesinha Pivetta, ator e músico, 38.

Idibal trabalhou diretamente com o povo nas ruas, com seu trabalho de vanguarda, que unia arte e luta por direitos.

"Ele é minha maior referência de vida em todos os aspectos culturais, sociais, intelectuais. Um cara muito humano, solidário, fraterno. A gente conviveu de forma íntima, como dois amigos muito próximos e companheiros mesmo. Uma relação com uma diferença de idade bem grande. Então, ele mesmo falava que ele era pai e avô. A gente brincava", conta o filho.

Nessa relação de amizade, Cesinha cresceu com o pai no teatro, cantando e atuando desde criança e frequentava os encontros regados a cultura e discussões políticas e sociais.

"Tenho orgulho demais de ser filho desse cara. Como muita gente me disse, certamente, Bertolt Brecht consideraria ele um dos imprescindíveis da humanidade", diz o filho, emocionado.

Idibal morreu aos 92 anos, no dia 23 de outubro, no Hospital Beneficência Portuguesa – Mirante, em decorrência uma pneumonia e outras complicações. Além do filho, deixou a companheira, Graciela Rodriguez, e a irmã Lia Pivetta.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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