Descrição de chapéu Obituário Maria do Socorro Goveia (1961 - 2023)

Mortes: Sertaneja lutou pelo direito à terra e acesso à água

Maria do Socorro Goveia foi liderança entre agricultores no sertão da Paraíba

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Juazeiro (BA)

No assentamento Acauã, em Aparecida (PB), crianças cuidam de um viveiro de plantas, mulheres geram renda com doces e jovens dançam quadrilha junina. Os três projetos foram criados pela agricultora Socorro Goveia, liderança da luta pelo direito à terra e acesso à água no sertão da Paraíba.

Maria do Socorro Goveia nasceu em Uiraúna (PB). Do pai, agricultor, herdou a paixão pela terra. A infância ficou difícil quando ele teve tuberculose. A mãe passou a vender frutas com a filha para o sustento da casa, pois não dava conta do trabalho na roça. Além da rotina de tratamento, a família sofria com o preconceito da doença.

Na juventude, começou a se destacar na comunidade. "Naquela época, nossa diversão era o grupo de jovens e as missas. Ela era uma liderança que puxava esses eventos", diz Maria do Socorro Ferreira, 59.

Maria do Socorro Goveia (1961 - 2023)
Maria do Socorro Goveia (1961 - 2023) - Arquivo pessoal

A xará foi sua melhor amiga. Eram chamadas de "Corrinha branca" e "Corrinha preta". A Ferreira ficava sob cuidados dos avós de Goveia para que a mãe pudesse trabalhar, o que aproximou as duas. "Nós nos adotamos como irmãs", afirma.

A militância de Socorro Goveia veio com a função de organizar os agricultores da região, criando a Comissão Pastoral da Terra Sertão da Paraíba. Aos 28 anos, mudou-se para Cajazeiras (PB) para ampliar o trabalho. "Nós mudamos com dois pratos, duas colheres e uma criança", lembra a amiga.

Na nova cidade, conheceu Alexsandro Alves Coelho. Casaram-se e tiveram duas filhas. Mas antes já exercia a maternidade, adotando e ajudando crianças.

Sua luta foi por políticas de convivência com o semiárido. Foi coordenadora da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e uma das fundadoras da ASA-PB (Articulação do Semiárido Brasileiro). "A vida dela era dedicada a isso, para que as pessoas tivessem uma vida diferente", diz Ferreira.

Em 1996, foi morar no assentamento Acauã, ocupação articulada pela CPT, com dezenas de famílias agricultoras sem terra. Lá, contribuiu na organização e formação dos moradores.

Socorro se tratava de um enfisema pulmonar havia 15 anos. O diagnóstico foi tardio e o médico lhe deu apenas um ano de vida na ocasião. Mas os cuidados com a saúde e a alimentação equilibrada permitiram que ela vivesse 14 anos a mais. Morreu dia 1º de novembro por choque séptico.

O velório no assentamento reuniu representantes dos 18 municípios onde atuava. A missa foi celebrada na capela que ajudou a construir. "Foi uma hora de missa e uma de homenagens. Todo mundo queria dizer adeus", conta Ferreira.

Socorro deixa duas filhas, Séfora Anastácia e Débora Alexia, três netos, o irmão Antonio Cleide e a amiga-irmã, além de muitos que ajudou a criar.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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