Quem acompanhava as redes sociais de Ana Gleice Diniz Nunes não imaginava a história por trás das fotos de viagens. A jornalista era uma sobrevivente de seis cânceres, e viajar pelo mundo era sua forma de celebrar a vida.
No livro "Eu Venci o Câncer", lançado em 2020 e do qual é uma das autoras, escreveu que sentiu os pés fora do chão ao receber o primeiro diagnóstico, em 2018, mas que desistir de viver nunca foi uma opção.
Foram meses de tratamento em um hospital do Recife. Curada, fazia exames regulares. Um deles detectou que o câncer havia retornado, e a rotina de tratamento voltou. Ainda esteve doente outras quatro vezes, entre coluna, intestino e perna.
As irmãs dizem que todo ano ela tinha alguma doença, mas não se abalava. "Era muito forte, não reclamava de nada e sempre estava agradecendo a Deus pelas vitórias", conta Jelucia Diniz, 53.
Ana Gleice era a sétima de oito irmãos e a animação da casa. Quando criança, vivia soltando piada e colocava apelido em todo mundo.
Após concluir o ensino médio em sua cidade natal, Petrolina (PE), recebeu o conselho de uma professora para cursar jornalismo. Mudou-se então para Aracaju, onde fez faculdade e amizades que levou para a vida toda.
De volta para casa, chegou a estagiar na área de formação, mas resolveu se dedicar à escola infantil da irmã. Usava o talento para a escrita em comunicados, além de ser a mestre em cerimônias oficiais de formatura. Tinha um dom para lidar com crianças. "Eram todas doidas por ela", afirma a gestora e irmã Maria do Socorro Diniz, 47.
O dentista Gustavo Spirandeli, 43, que conheceu Ana em uma excursão há 17 anos e se tornou amigo de estrada, diz que a doença não tirou dela a paixão por viagens. "Muitas vezes a gente chorava, e ela não deixava. Era para nós darmos forças a ela, mas ela que nos dava."
Ana Gleice se afastou da escola para se tratar. Nos últimos meses, perdeu a consciência por causa da medicação forte. Nas visitas, o marido falava das passagens compradas para novembro como incentivo para uma melhora. Socorro narra que a irmã só reagia quando a mãe a tocava. "Uma lágrima escorria no rosto dela, mas ela não falava mais nada."
O medo de morrer de Ana era deixar os pais sofrendo. A preocupação virou realidade no dia 2 de outubro, aos 41 anos de idade. "Ela lutou até o último suspiro", diz Jelucia.
Ana Gleice deixa os pais Jesus e Marluce, o marido Marcos, os irmãos Eliesse, Jelucia, Jesus Filho, Maria do Socorro, Lutecia, Marlania e Yuka Glaucia, e 17 sobrinhos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.