Rio Grande do Sul tem 5 mortes e 28 mil pessoas fora de casa por causa das chuvas

Em Santa Catarina há ao menos 4.524 desabrigados, diz o governo do estado

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Curitiba

O governo do Rio Grande do Sul confirmou nesta terça-feira (21) a quinta morte em decorrência das chuvas que atingem o estado desde a última quarta (15).

A vítima é uma mulher de 67 anos. Segundo a Defesa Civil, ela foi encontrada morta por familiares em uma casa alagada na cidade de Eldorado do Sul.

Segundo balanço divulgado pelo órgão no final da tarde desta terça, o estado tem 28.314 pessoas fora de suas casas —são 3.351 desabrigados (dependem de abrigos públicos) e 24.963 desalojados (podem ir para a casa de conhecidos).

Inundação em Eldorado do Sul (RS), nesta segunda (20) - Diego Vara/Reuters

A quarta morte ocorreu no domingo (19) em Giruá (a 470 km de Porto Alegre). Uma mulher foi atingida por uma microexplosão e morreu na hora. Outra morte foi registrada em Vila Flores (a 185 km de Porto Alegre) —um homem que teve o carro arrastado pela correnteza.

No sábado (18), o governo estadual havia confirmado duas mortes em Gramado (a 104 km de Porto Alegre). Segundo a prefeitura do município, Elisabeta Maria Benisch Ponath, 51, e Lidowina Lehnen, 86, morreram soterradas após o desabamento da casa onde viviam.

Na segunda (20) ele sobrevoou cidades localizadas no Vale do Taquari, um dos locais mais afetados e já castigado pelas chuvas de setembro. Os desabrigados da região são atendidos em 35 abrigos de dez municípios (Arroio do Meio, Colinas, Cruzeiro do Sul, Encantado, Estrela, Lajeado, Muçum, Roca Sales, Santa Tereza e Taquari).

Em Eldorado do Sul (a 52 km de Porto Alegre), a moradora Zuleica Maia, 46, começou a ver a água do rio Jacuí subindo dentro da própria casa na segunda. "Como choveu muito em Lajeado e Estrela, a água desce toda para nós", explica ela à Folha.

Ela mora no bairro Chácara, diz que já viu outras cheias, mas que é a primeira vez que a água entra dentro de casa, onde mora com duas filhas, a mãe e uma amiga. "Minha vida toda agora em uma chave de casa, carteira, celular e um carregador", diz.

Ainda na segunda, suspendeu alguns móveis, que ficaram apoiados em tijolos, e deixou a casa. Tirou a família com ajuda de um pequeno barco. Elas foram para a casa de uma irmã, no bairro Santa Rita. À noite, voltou sozinha para ver como estava a situação.

"Fiquei até meia-noite lá, mas tinha até sapo na água dentro de casa. Saí e fui pra casa de uma pessoa que ofereceu ajuda. Dormi num colchão até as 5 da manhã. E voltei pra casa de novo. Como não tinha o que fazer, vim trabalhar", conta.

Maia diz que manteve a rotina de trabalho, com dois empregos. De segunda a sexta, trabalha em Porto Alegre, em um atacado. Nos finais de semana, trabalha em uma loja de chocolates em Eldorado.

Ela afirma que está "cansada fisicamente e psicologicamente" e que encontra força nas filhas.

Em Eldorado do Sul, a prefeitura precisou suspender aulas em algumas escolas e fechar seis unidades de saúde por causa das enchentes.

Segundo a Defesa Civil estadual, entre quarta (15) e terça (21), 177 cidades registraram algum tipo de ocorrência relacionada às chuvas.

Ao menos três prefeituras de municípios estão cadastrando voluntários para atuarem em ações de limpeza, caso de Muçum, Roca Sales e Arroio do Meio.

Em entrevista à imprensa nesta segunda, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que está agilizando o repasse de recursos às cidades em situação de emergência e calamidade. "Vamos reforçar os repasses fundo a fundo e garantir o acesso facilitado dos recursos aos municípios afetados em setembro e nos últimos dias. Vamos superar esse momento", disse Leite.

Nesta terça, ele assinou um decreto que institui o Gabinete de Crise Climática. O objetivo do GCC, na definição do governo, é "alcançar a resiliência e a adaptação climática, com atuação transversal e integração de diferentes órgãos".

De acordo com a MetSul Meteorologia, a previsão para os próximos dez dias ainda é de chuva na maior parte do Rio Grande do Sul, mas a precipitação não deve ser tão extrema como a registrada desde quarta.

Santa Catarina e Paraná também têm problemas

Em Santa Catarina, de acordo com a Secretaria de Estado da Assistência Social, Mulher e Família, havia, no início da tarde desta terça, 4.524 pessoas desabrigadas por causa das chuvas. São 85 abrigos públicos funcionando em 38 cidades.

A cidade com o maior número de abrigos é Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí. São 21 abrigos que acolhem mais de 1.500 pessoas.

A pasta afirma que ainda não há um levantamento sobre o número de desalojados no estado, uma vez que as informações ainda estavam sendo enviadas pelos municípios.

Embora a chuva tenha perdido força entre segunda (20) e terça (21) no estado, a secretaria tem pedido cautela às famílias que querem voltar para suas casas.

De acordo com a Defesa Civil, um novo núcleo de chuva se aproxima da região e pode trazer até 150 milímetros de precipitação para o Alto Vale do Itajaí entre a quarta (22) e a quinta-feira (23).

O Paraná também registrou estragos causados pelas chuvas da última semana, em diferentes pontos do estado, mas de forma menos intensa na comparação com Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Entre quarta (15) e o início da tarde desta terça (21), a Defesa Civil paranaense calcula que 14.428 pessoas, em 11 cidades, foram afetadas por alguma ocorrência ligada às chuvas. No total, 447 casas foram danificadas. Mas não há pessoas desabrigadas nem desalojadas.

A pior situação foi registrada em Ponta Grossa (120 km de Curitiba), com 220 casas danificadas por conta do temporal de sábado (18).

Na segunda (20), os governadores de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), criaram um grupo de trabalho para estudar formas de minimizar os efeitos das cheias do rio Iguaçu, que afetam os dois estados.

No mês de outubro, as chuvas intensas elevaram o nível do rio Iguaçu em diferentes pontos. Entre os municípios mais afetados estão União da Vitória, no Paraná, e Porto União, em Santa Catarina, que ficam lado a lado, na divisa dos estados. Cerca de 40% da área de União da Vitória ficou alagada.

O grupo de trabalho vai envolver técnicos de órgãos estaduais, como o IAT (Instituto Água e Terra) do Paraná e o IMA (Instituto do Meio Ambiente) de Santa Catarina.

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