Criança de um ano é baleada por PM com munição de plástico em São Paulo

Vídeo mostra agente atirando contra moto em que bebê era transportada; caso foi registrado como tentativa de homicídio

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São Paulo

Uma criança de um ano foi baleada no rosto com munição de plástico disparada por um policial militar no Itaim Paulista, zona leste da cidade de São Paulo, enquanto era transportada pelo pai numa motocicleta.

O caso aconteceu no início da madrugada de terça-feira (26), e foi registrado como tentativa de homicídio. A menina foi levada à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Dr. Júlio Tupy, e encaminhada ao Hospital Tide Setúbal.

O projétil de plástico, usado em armas de airsoft, não pertence ao arsenal da Polícia Militar, e foi extraído em cirurgia. O material, junto com imagens de câmera de segurança que registraram o disparo, foi encaminhado para perícia. Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, os dois agentes que estavam na viatura foram afastados.

A dupla permaneceu em silêncio durante o depoimento na tarde desta quarta-feira (27). Conforme a pasta chefiada pelo secretário Guilherme Derrite, "imagens das câmeras corporais foram solicitadas para auxiliar nas apurações".

câmera registra pm que conduz viatura com braço para fora apontando arma e borrão que é a moto em movimento
PM atirou contra moto com arma de airsoft e atingiu bebê de 1 ano - Câmera de segurança

Segundo o boletim de ocorrência, ao qual a reportagem teve acesso, o motorista da viatura da Polícia Militar seguia em baixa velocidade pela rua Sete Estrelas quando parou o veículo e disparou contra uma moto que passava no sentido contrário. No relato, o pai da menina diz ter ouvido dois estampidos.

A imagem não mostra abordagem ou ordem de parada antes do disparo. Depois de atirar, o agente conduziu a viatura no mesmo sentido. O pai ouviu a criança chorando, parou a moto e viu o ferimento do lado esquerdo do rosto dela. Com a ajuda de um amigo, seguiram para a UPA.

Testemunhas relataram que policiais militares voltaram à rua, procurando por câmeras de segurança no mesmo trecho onde fica o aparelho que registrou o disparo. Chegaram a chamar por moradores de uma das casas, mas não foram atendidos e deixaram o local.

Ao voltar à rua para buscar documentos da filha, o pai da menina também ficou sabendo por testemunhas da volta de policiais ao local, o que teria incluído, segundo depoimentos, uma segunda viatura.

Segundo a SSP, o caso foi registrado como tentativa de homicídio no 50° DP (Distrito Policial), e a investigação é conduzida pelo 67° DP (Jardim Robru). A Polícia Militar instaurou um inquérito policial militar, e a corregedoria da corporação foi acionada para providências administrativas.

"Todas as circunstâncias do caso são rigorosamente apuradas pela Polícia Civil e Militar. Na ocasião, um homem de 29 anos estava em uma motocicleta com sua filha, de 1 ano, quando, ao passar por uma viatura da Polícia Militar, ouviu dois disparos", diz a nota da secretaria.

O delegado Gregory Goes Siqueira, responsável pela ocorrência citou os riscos no atendimento da criança. "Ressalte-se também que a vítima precisou ser internada em emergência médica e submetida à cirurgia para extração do projétil. Esta cirurgia, inclusive, com anestesia geral do bebê, que, por este motivo, possui risco real de morte", afirmou no registro.

À TV Globo, ele disse que não houve ordem de parada ou qualquer tipo de comunicação antes dos tiros. "Não há justificativa para usar um instrumento que nem faz parte do arsenal da PM", afirmou Siqueira. Ainda segundo ele, no mínimo haveria dolo (crime) eventual, porque um policial com conhecimento técnico saberia que o disparo, mesmo de munição não letal, contra uma moto, poderia causar um acidente.

No início da tarde desta quarta-feira, a SSP disse que os dois agentes que estavam na viatura foram identificados e previamente afastados. "A SSP ressalta que a Polícia Militar é uma instituição legalista, que não compactua com desvios de conduta e que promove treinamentos constantes para que todos os seus integrantes ajam dentro dos protocolos estabelecidos."

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a família não autorizou a divulgação do estado de saúde da criança.

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