Monitorar mina em risco em AL envolve 26 sensores, equipes 24 horas e satélite

Chão cedeu quase 2 m de profundidade em bairros afetados em Maceió pela atividade da Braskem

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Maceió

São 24 horas de monitoramento, em tempo real, com vários equipamentos para tentar prevenir os moradores de Maceió de uma tragédia diante do risco de colapso da mina 18, da Braskem. A força-tarefa coordenada pela Defesa Civil da cidade para verificar a movimentação do subsolo se apoia na captação de 26 sensores dos sismos (tremores), entres outros aparelhos, e uso de satélite.

O chão cedeu quase dois metros de profundidade desde o início do monitoramento, em 21 de novembro. O ponto mais crítico fica no Mutange, um dos cinco bairros afetados pelas atividades de mineração da Braskem na capital alagoana.

A rede de monitoramento conta com 14 sensores superficiais e 12 em profundidade. Uma técnica chamada interferometria (InSAR), que recobre toda a área de interesse, aponta como está a subsidência (afundamento do terreno).

foto aérea de bairro próximo a lagoa e terra
Área evacuada no bairro Mutange, em Maceió, onde uma mina de sal-gema da Braskem com risco de ceder - Jonathan Lins - 1º.dez.2023/Reuters

Há quatro inclinômetros, que medem a angulação das cavidades, e 13 tiltímetros, que avaliam as variações e inclinações desse ângulo. Há ainda três pluviômetros, que medem o volume de chuva.

A área conta com 76 receptores com Sistema Diferencial de Navegação Global por Satélite (DGNSS), que são os equipamentos que recebem os dados recentes de satélite sobre a movimentação do solo.

A equipe do centro de monitoramento tem 22 colaboradores, além do coordenador, que se dividem em turnos. O grupo é multidisciplinar e conta com engenheiros, geógrafos, geólogos e meteorologistas.

"Os sensores funcionam em grande parte da cidade, em toda aquela região dos cinco bairros, contemplando todas as minas. Primeiro, o monitoramento foi montado pela Braskem, depois vieram os convênios com as universidades, garantindo uma grande estrutura de dados, sempre se conversando. Era tudo muito integrado", conta Aderson Farias do Nascimento, coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) que participou da implantação da rede de monitoramento em Maceió. O processo durou cerca de três anos.

A reportagem procurou o Governo de Alagoas e a Braskem para que detalhassem como funciona o trabalho de monitoramento feito por eles, mas não houve resposta.

O Serviço Geológico do Brasil, órgão federal ligado ao Ministério de Minas e Energia, afirmou que o monitoramento é feito pela Defesa Civil municipal. "Somente temos acesso à rede em caráter consultivo", declarou.

Em material distribuído pela Braskem sobre suas ações, a empresa afirma que instalou na área 16 sensores de DGPS (aparelhos de alta precisão que detectam movimentações no terreno) e 16 sismógrafos (que registram eventos sísmicos), pelo termo de cooperação assinado.

A empresa diz ainda que doou sismógrafos para pesquisadores da UFRN e da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) aprofundarem a análise dos dados obtidos com o monitoramento.

TREMORES FORAM NOTADOS HÁ UM MÊS

De acordo com o meteorologista e coordenador do centro de monitoramento da Defesa Civil de Maceió, Hugo Carvalho, os primeiros sinais de problemas surgiram no dia 6 de novembro, com sismos de magnitude 1,15.

Esta primeira fase durou até o dia 11, com atividade semelhante. Depois, o período até o dia 20 foi de normalidade e, na sequência, os tremores voltaram, mas em baixa magnitude. A partir dali, os equipamentos passaram a mostrar o afundamento do solo.

No dia 27, dois tremores consideráveis foram notados pelos equipamentos: à 1h40 e às 15h43. No dia 29, a movimentação continuou e chegou ao seu ápice, com um afundamento de 5 cm/h às 23h53.

Na última terça (5), a Defesa Civil Municipal mudou a situação de "alerta máximo" para nível de "alerta", com monitoramento contínuo.

Carvalho, porém, diz que é preciso manter cautela, já que essa movimentação continua alta para os padrões dos anos anteriores.

"A velocidade se mantém baixa, mas é baixa tendo em consideração aqueles cinco centímetros [por hora] a que já chegamos. Na normalidade, o nível de subsidência fica na casa dos milímetros anualmente. Já que felizmente a área foi evacuada, agora nos resta continuar esse monitoramento", afirmou o meteorologista.

Questionado sobre previsões de horário em que a mina poderia colapsar, repassadas à população nos primeiros dias do problema, Carvalho disse que não é possível ser taxativo em situações como esta —a Defesa Civil de Maceió chegou a anunciar que a mina poderia colapsar às 6h do dia 1º.

"As previsões de horários foram baseadas em dados, e esses dados são internos, somente para estudo", diz Carvalho. "Percebemos que isso estava maltratando muito a população e passamos a evitar falar datas. É uma estimativa, não uma previsão", afirmou.

Embora diga que "não há tecnologia no mundo que possa fazer previsão do que vai acontecer caso essa mina colapse", o meteorologista afirma que bairros como Bom Parto e Flexais, que pedem realocação, não seriam atingidos fisicamente em um eventual colapso.

Isso porque essas áreas estão mais distantes do processo da cavidade —1,5 km para Bom Parto e 2 km para Flexais. Se a mina vier a colapsar, ele diz, poderá atingir um raio de cinco vezes o da cavidade. Desse modo, se ela tem 60 metros de raio, seriam 300 metros de área afetada, local onde ficava o campo do CSA (Centro Sportivo Alagoano), estima Carvalho.

Colaborou Nicola Pamplona, do Rio de Janeiro

Erramos: o texto foi alterado

O pluviômetro é usado para medir o volume de chuva, não para analisar a possibilidade de sua ocorrência, como afirmado em versão anterior deste texto.

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