Descrição de chapéu Obituário Hildebrando Munhoz Rodrigues (1943 - 2023)

Mortes: Sereno, foi exemplo de professor e defensor da educação no Brasil

Hildebrando Munhoz Rodrigues continuou a orientar estudantes depois de aposentado

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São Paulo

Gerações de alunos interessados pela pesquisa científica tinham no mestre Hildebrando Munhoz um mentor completamente dedicado. Mesmo aposentado, ele reservava sábados para orientar grupos de estudantes com um método próprio. O pesquisador sabia, pela própria trajetória, do peso que uma boa preparação poderia ter na vida deles.

De família pobre de agricultores de Neves Paulista, a 450 km da capital de São Paulo, Hildebrando ajudava na lavoura e não frequentava a escola. A rotina nos anos 1950 era de muito trabalho e pouco dinheiro, até que o pai foi sorteado. "Meu pai não lembrava se era loteria, mas meu avô ganhou um dinheiro", afirma a filha, Cristina Munhoz, 45.

A mãe de Hildebrando, então, decidiu que a família se mudaria para a vizinha São José do Rio Preto, para que os cinco filhos pudessem estudar. Foi ali que Hildebrando percebeu a facilidade com os estudos, que levava com a serenidade característica.

hidebrando sorri para foto, é branco, idoso, tem cabelos brancos ralos, usa camisa amarela de manga curta. está acompanhado por diversos alunos, homens e mulheres, enfileirados atrás dele, que sorriem para a foto
Hildebrando Munhoz Rodrigues (1943 - 2023) e alunos na USP em São Carlos - Denise Casatti/Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP

Trabalhou em um banco como contínuo, na limpeza e, depois, passou a entregar cartas a pé pela cidade, sempre acompanhado de um livro. Após juntar dinheiro, pediu demissão e avisou que iria para São Carlos estudar em um cursinho para tentar uma faculdade.

Aprovado em primeiro lugar no vestibular da Unesp, começou a estudar matemática no campus de Rio Claro, mas o dinheiro acabou no fim do primeiro ano.

Sabendo do apuro financeiro, um professor ofereceu uma bolsa de iniciação científica para que o estudante pudesse se manter na universidade, e chegou a passar um cheque para ajudar Hildebrando. "Ele achou que isso seria descontado da bolsa, só percebeu depois", diz Cristina.

Foi o primeiro mestrando da USP em São Carlos, onde fez doutorado e foi contratado como professor. Conheceu a esposa, Maria Ivana da Silva Munhoz, 74, durante visitas aos colegas que deixou em Rio Claro. Tiveram três filhos: Aline, já falecida, e os gêmeos Cristina e Daniel.

Ativo, dizia que seria jogador de futebol se não fosse professor. Chegou a vencer um campeonato amador e correu maratonas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Também foi diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos, onde liderou a criação do grupo de equações diferenciais, e zelou pela segurança dos estudantes e a limpeza do local com o mesmo esmero dedicado à pesquisa. Entre as homenagens, foi lembrado pela Sociedade Brasileira de Matemática pela repercussão internacional de 40 de seus artigos científicos.

Hildebrando morreu em 28 de novembro, aos 80 anos, após um período de internação em São Paulo. Deixa, segundo a filha, um lembrete para a valorização da educação pública, gratuita e de qualidade no Brasil.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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