Prefeito Ricardo Nunes decide não reajustar tarifa de ônibus de São Paulo

Valor ficará em R$ 4,40; ônibus e metrô passam a ter valores diferentes pela primeira vez em 11 anos, e especialista prevê perda de passageiros no transporte sobre trilho

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São Paulo

A gestão Ricardo Nunes (MDB) anunciou que não vai subir o valor da tarifa dos ônibus em São Paulo. A passagem vai continuar em R$ 4,40, segundo nota da prefeitura da capital paulista.

A decisão vai na direção contrária à do governo do estado, que aumentará a tarifa de trem e de metrô para R$ 5. O reajuste, confirmado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) na manhã desta quinta-feira (14), pegou Nunes de surpresa.

Prefeito Ricardo Nunes; gestão diz que não vai aumentar valor da passagem - Jardiel Carvalho - 25.set.2023/Folhapress

Segundo a prefeitura, a decisão de manter a tarifa de ônibus foi tomada após reunião conjunta entre representantes da área de transportes da Prefeitura de São Paulo e do governo estadual.

A prefeitura ressaltou que não há qualquer impedimento técnico na gestão de tarifas distintas entre os serviços de ônibus, metrô e trens, como já ocorrera em anos anteriores.

"A atual gestão mantém o empenho em incentivar o transporte coletivo, responsável pela locomoção de 7 milhões de passageiros por dia, e que não sofreu reajuste nos últimos três anos", diz a nota.

O reajuste da tarifa do transporte público na cidade de São Paulo tem colocado em lados opostos o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB). O valor de R$ 4,40 é o mesmo desde janeiro de 2020, apesar de a inflação no período ter sido de 26% (R$ 5,55). O reajuste anunciado pelo estado é de 13,6%, metade da inflação.

A defasagem incomodava Tarcísio, que dizia reiteradamente para os seus secretários que subiria a tarifa no ano que vem. Por outro lado, Nunes calcula que o aumento da passagem trará prejuízos à sua campanha de tentativa de reeleição. Os dois são aliados.

Tarcísio confirmou sua intenção de aumentar o preço da passagem em entrevista no último dia 29 de novembro. "[A tarifa] Está congelada há muito tempo, a gente tem como fazer conta. Quanto mais tempo congelada, mais subsídio, e eu preciso tirar de alguma política pública. Então tem que por na balança, não tem almoço de graça. Se a tarifa não subiu, o custo subiu", disse o governador.

"As empresas não vão ter solvência sem repasse, e o fato de a tarifa estar congelada vai prejudicando a saúde financeira das empresas", completou Tarcísio.

Tarifas deixam de ser unificadas após 11 anos; especialista prevê confusão

Com a falta de entendimento entre a gestão municipal e a estadual, a tarifa do transporte público deixa de ser unificada após 11 anos, já que o acordo entre os dois níveis de governo vigorava desde 2012, quando a tarifa era R$ 3.

Na ocasião, houve um acordo entre as gestões de Alckmin (PSDB) e Haddad (PT) para acabar com um desequilíbrio na quantidade de passageiros, visto que as pessoas tendiam a usar o transporte mais barato mesmo que houvesse uma demora maior na viagem.

Então, as gestões resolveram unificar e fazer um novo cálculo de distribuição das tarifas. Posteriormente, devido às manifestações de 2013, as gestões passaram a aumentar somente em janeiro, época mais difícil de haver mobilização.

"Vão romper um acordo que vigorava há bastante tempo. A unidade da tarifa é importante. Vai gerar uma confusão na contabilidade das pessoas. No trabalho, vão pedir o vale-transporte do ônibus, mas se usarem o metrô vai comer mais dinheiro delas", diz Rafael Calabria, coordenador de mobilidade urbana do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor).

De acordo com ele, sempre que há reajuste nas tarifas, há perda de passageiros.

"De 2011 para cá, sempre que houve aumento na tarifa houve queda de passageiros. Só não teve queda em 2013 e 2014, quando houve recuo no reajuste das tarifas", afirma.

Calabria avalia que o metrô deve perder passageiros com a disparidade na cobrança.

"Vai ter mais uma dessas quedas no metrô, mas que deve ser mais agravada porque existe um risco de as pessoas migrarem para os ônibus reforçando essa tendência histórica", avalia.

Ainda de acordo com Calabria, quem usa só metrô pode migrar para o ônibus.

"Algumas linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) não têm uma linha de ônibus exatamente substituta, digamos assim. Mas, a linha vermelha do Metrô, por exemplo, na radial leste, tem a linha 4310. A linha amarela na Rebouças, tem a linha Campo Limpo/Praça Ramos, que é até maior que a linha amarela. Quem vem pela linha Campo Limpo/Praça Ramos nem vai descer na linha amarela porque vai ter de pagar mais. Vai estimular mais ainda a desintegração entre os dois [ônibus e metrô]. Quem usa só metrô pode ser que migre para os ônibus e vai ter menos gente querendo integrar", avalia.

Rafael Drummond, consultor em planejamento urbano e ex-conselheiro do CMTT (Conselho Municipal de Trânsito e Transporte) concorda com a avaliação.

"A expectativa é que haja sim uma migração para os ônibus. Sabemos que desde que começou o bilhete único, foram poucos os anos em que houve o descasamento entre a tarifa do sistema de trilhos do estado e dos ônibus da capital. Isso ocorreu em 2006, 2009, 2010 e 2011. Aliás, em 2011 houve um aumento maior para os ônibus, o que deixou o valor maior que o do Metrô e CPTM", afirma.

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