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Rio de Janeiro violência

Videomonitoramento promete 'área de segurança', mas entrega show de horrores em Copacabana

Empresa Gabriel cresceu na zona sul do Rio com forte estratégia de marketing, mas bairro enfrenta alta de 28% nos roubos

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Rio de Janeiro

A origem das imagens do mais recente "show de horrores" às vésperas do verão nas ruas de Copacabana tem nome, mas não sobrenome: Gabriel, a empresa de videomonitoramento que dominou a zona sul do Rio de Janeiro.

A empresa prometeu ajudar a polícia a planejar o patrulhamento e na formação de "áreas de segurança" com a enxurrada de câmeras voltadas para as ruas, mas, até o momento, a única coisa que conseguiu no bairro foram imagens da violência urbana com boa definição.

O crescimento da empresa na região foi estimulado a partir da promessa de formação de uma rede de câmeras voltadas para áreas públicas, custeadas por condomínios. A estratégia instiga o boca-boca dos vizinhos, temerosos do que pode significar para criminosos a ausência da câmera com iluminação verde fosforescente.

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Momento em que pedestre é agredido com soco no rosto - Reprodução/TV Globo

Foram essas as câmeras que flagraram as principais cenas recentes de assaltos em Copacabana. O bairro enfrenta uma alta de 28% nos registros de roubos de rua, segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública). A elevação destoa das quedas registradas em Leblon e Ipanema (-30% e -23%, respectivamente), onde a empresa também atua.

Se não se pode atribuir à empresa a explosão na violência em Copacabana –uma responsabilidade do poder público–, tampouco é possível creditar ao videomonitoramento a queda dos bairros vizinhos.

A Gabriel cresceu no mercado de segurança com uma estratégia agressiva de marketing e investimento de pesos pesados. De acordo com reportagem do jornal O Globo de 2021, a empresa liderou uma rodada de investimentos que captou R$ 66 milhões, sendo um de seus investidores a Globo Ventures (unidade de investimento do Grupo Globo, do qual o jornal faz parte).

Além de dinheiro, a empresa também conta com boas conexões com a polícia. Em seu site, apresenta depoimento da delegada Daniela Terra, atualmente lotada na delegacia do Leblon, afirmando que 80% das prisões por furto de sua equipe foram feitas com ajuda do sistema da empresa.

O site The Intercept Brasil descreveu em reportagem como a Gabriel oferece contatos privilegiados com a polícia. A Folha ouviu relatos semelhantes de síndicos da zona sul da cidade. Um deles descreve ter conhecido a empresa numa reunião com oficiais do batalhão de Copacabana.

A Polícia Militar nega atuar em favor da empresa.

A Gabriel foi a primeira empresa de segurança privada a integrar o projeto de videomonitoramento urbano da PM. Desde setembro, as imagens das câmeras vão direto para o CICC (Centro de Comando e Controle).

A intenção da PM é usar essas imagens num megaprojeto de reconhecimento facial, técnica criticada por seu viés racial nos erros e na identificação de supostos criminosos.

Na mais recente onda de violência em Copacabana, as imagens mostram que as câmeras não inibiram os criminosos. Também evidenciam que não ajudaram no policiamento da região, já que não registraram a presença de nenhum agente. Mas a exibição ostensiva da violência abasteceu os telejornais e já estimulou os "justiceiros" que circulam em Copacabana.

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