Sobe para seis o número de mortos em naufrágio na Bahia

Criança é uma das vítimas; saveiro fazia transporte irregular de passageiros, segundo a Marinha

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Salvador

Ao menos seis pessoas morreram após um acidente de barco na baía de Todos-os-Santos, nas proximidades do município de Madre de Deus, a 65 km de Salvador, na noite do domingo (21). Duas pessoas continuavam desaparecidas nesta segunda (22).

O acidente aconteceu por volta das 22h de domingo. Cinco vítimas haviam sido identificadas até a noite de segunda —uma criança, uma adolescente, um homem e duas mulheres.

A embarcação fazia um trajeto de aproximadamente dez minutos entre a ilha de Maria Guarda e o píer da cidade de Madre de Deus. Os passageiros voltavam de uma festa que fazia parte da programação do Madre Verão, evento organizado pela prefeitura.

Barco naufraga e deixa cinco pessoas mortas - Reprodução/TV Globo

Os nomes das cinco vítimas identificadas foram divulgados pela Polícia Civil da Bahia: Ryan Kevellyn de Souza Santos, 22; Flaviane Jesus dos Santos, 29; Jonathan Miguel de Jesus Santos, 7; Caroline Barbosa de Souza, 17; e Rosimeire Maria Souza Santana, 59.

A Marinha afirma que a embarcação de nome "Gostosão FF" estava com documentação em dia, mas realizava transporte irregular de passageiros. O barco estava inscrito na Capitania dos Portos na classe "saveiro", que deve ser usado exclusivamente em atividades de esporte ou recreação.

As autoridades ainda apuram um possível excesso de pessoas na embarcação no momento do acidente. Ainda não se sabe o número exato de passageiros a bordo, mas a Marinha diz que seriam ao menos 14.

Além dos seis mortos, outras seis pessoas foram hospitalizadas. Destas, duas tiveram alta médica e quatro continuavam internadas em hospitais da rede estadual. Não foram divulgados detalhes sobre o estado de saúde dos feridos, mas, segundo o Corpo de Bombeiros, todos estavam em UTI (Unidades de Terapia Intensiva).

O comandante da embarcação, que também é o proprietário do saveiro, está foragido. Ele chegou a se apresentar à polícia logo após o naufrágio, mas fugiu. O nome dele não foi divulgado.

A Marinha afirma que realizou ações de fiscalização neste domingo na região de Madre de Deus com um contingente de 12 marinheiros em três embarcações. E diz que, após ter sido informada sobre o naufrágio, acionou uma embarcação rápida que levou cerca de 45 minutos para chegar ao local do acidente.

A Força diz que não foi informada pela Prefeitura de Madre de Deus sobre a realização da festa na Ilha de Maria Guarda para um possível reforço na fiscalização. O prefeito de Madre de Deus, Dailton Filho (PSB), foi procurado pela Folha nesta segunda, mas não respondeu aos contatos da reportagem.

Em uma rede social, o prefeito disse que a gestão está mobilizada para garantir apoio às vítimas e seus familiares. No domingo, Dailton Filho havia ido à ilha de Maria Guarda para participar da festa organizada pela prefeitura.

A operação de busca e salvamento envolve cerca de 30 bombeiros e 39 militares da Marinha. Também participam dos trabalhos uma embarcação da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental da Polícia Militar, uma aeronave do Grupamento Aéreo (Graer) e embarcações civis.

Em uma rede social, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) lamentou o acidente e prometeu empenho na busca pelos desaparecidos. "Não mediremos esforços para dar todo o apoio e suporte às famílias", escreveu.

Um inquérito será instaurado pela Capitania para apurar as causas e circunstâncias do acidente. Em entrevista à imprensa nesta segunda, o capitão dos Portos da Bahia, comandante Wellington Lemos Gagno, afirmou que uma briga teria ocorrido entre ao menos dois dos passageiros antes do embarque no saveiro. A suspeita é que uma nova briga possa ter acontecido dentro da embarcação.

"Os inquéritos ainda vão apurar, mas uma briga pode ter levado as pessoas para um mesmo lado da embarcação. Isso move o centro de gravidade, tira estabilidade. Pode ser um dos fatores que levaram ao emborcamento da embarcação", afirmou.

Após a conclusão do processo, os documentos serão encaminhados ao Tribunal Marítimo. O caso também é investigado pela Polícia Civil.

47 MORTOS NA ÚLTIMA DÉCADA

Naufrágios e acidentes envolvendo embarcações na baía de Todos-os-Santos, uma das maiores do país, deixaram ao menos 47 mortos ao longo dos últimos dez anos. Os dados são da Marinha do Brasil, que registrou 238 acidentes na região desde 2014.

O naufrágio deste domingo, com ao menos seis mortos, é o segundo maior em número de vítimas na última década. O maior aconteceu em agosto de 2017, quando uma lancha que fazia o transporte de passageiros entre a Ilha de Itaparica e Salvador virou no meio da travessia, deixando 19 mortos.

A Polícia Civil concluiu o inquérito em 2018 e apontou como culpados pelo acidente o comandante, o engenheiro responsável e o proprietário da lancha. Fiscais da Marinha e da Agerba, órgão do governo estadual que atua na fiscalização do sistema de lanchas, não foram indiciados.

As investigações apontaram que o comandante da embarcação agiu com negligência e imperícia ao seguir viagem mesmo com ondas que chegavam a um metro de altura. Ele também seguiu por uma rota considerada mais perigosa e não adotou uma postura defensiva ao passar por bancos de areia.

O engenheiro técnico foi considerado responsável por erros nos cálculos que indicavam estabilidade da lancha. Já o proprietário foi apontado como negligente pelo fato de a embarcação não cumprir os critérios de estabilidade exigidos por lei.

A Marinha afirma que atua de forma constante e ostensiva na fiscalização de embarcações e do tráfego aquaviário na baía de Todos-os-Santos.

"Não há falta de fiscalização", disse o capitão dos Portos da Bahia, comandante Wellington Lemos Gagno, em entrevista nesta segunda, após o acidente em Madre de Deus. Ele destacou, contudo, o tamanho da baía como um desafio nas ações de fiscalização —são 1.233 km², uma área de tamanho equivalente ao da cidade do Rio de Janeiro.

Neste ano, segundo a Marinha, foram realizadas no âmbito da Operação Verão 11.400 abordagens a embarcações, que resultaram em 416 notificações e 35 apreensões por descumprimento das normas. No ano passado, foram 8.209 ações de abordagem.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.