Descrição de chapéu Obituário Léa Mazelli Ziggiatti Monteiro (1936 - 2024)

Mortes: Apaixonada pelas artes, revolucionou a cultura de uma cidade

Com Léa Ziggiatti à frente, conservatório de Campinas (SP) formou gerações de talentos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O ideal é a arte. A inspiração é Deus. A frase era repetida por uma mulher acostumada a falar, ouvir, cantar, escrever, tocar, sentir e sonhar, às vezes tudo ao mesmo tempo.

Uma das principais referências culturais de Campinas em décadas, Léa Ziggiatti tinha adoração pela cidade do interior paulista onde nasceu.

O fascínio pelas artes veio de berço, das salas de música do Conservatório Carlos Gomes, fundado pela família, onde, criança, aprendeu a tocar piano e flauta.

Mulher de roupa bebe, óculos e chapéu sentada em uma plateia
Léa Mazelli Ziggiatti Monteiro, mantenedora do Conservatório Carlos Gomes, de Campinas (SP), morreu no último dia 16 de janeiro, aos 87 anos - Leitor

O fascínio pela cidade foi redigido nos anos em que escreveu semanalmente para jornais locais.

Léa Ziggiatti foi além da música. Pedagoga, ensinou gerações nas mais variadas vocações artísticas. Bacharel em direito, desistiu da advocacia quando, em um de seus primeiros casos, tinha em mãos uma ordem de despejo e largou a causa ao se sensibilizar com a outra parte.

No seu longo currículo, há formação em canto orfeônico. Também foi regente. Escreveu e adaptou peças teatrais infantis. Publicou três livros, entre tantos outros feitos.

Sua história se confunde com a do Conservatório Carlos Gomes —que homenageia no nome o importante compositor brasileiro nascido em Campinas. Criado em 1927 por Catharina Ziggiatti (sua avó) para o filho Miguel, músico, passou às mãos da sobrinha Léa 35 anos depois.

Durante as seis décadas em que esteve à frente da escola, a mulher a transformou em um centro cultural diverso, com dança, canto, teatro e cinema, entre outras atividades.

"Quando ela pegou o conservatório, quis encher o lugar de crianças. Dizia que elas são o celeiro das artes", conta a filha Lara Ziggiatti Monteiro, primeira violoncelo da Orquestra Sinfônica de Campinas e da Orquestra Sinfônica da Unicamp, atual sucessora da mãe na gestão do conservatório. "Ela criou um curso de iniciação artística pioneiro."

Artistas mirim passaram a ser lapidados no Carlos Gomes. O Coral dos Meninos Cantores de Campinas, por exemplo, emociona quem ouve aquelas vozes múltiplas desde a primeira apresentação, uma cantata de Natal com os integrantes trajados com hábitos franciscanos na Catedral Metropolitana da cidade, em 1991.

Do conservatório saíram músicos que hoje tocam em orquestras na Europa ou ensinam piano nos Estados Unidos.

Léa Ziggiatti moldou até quem não tinha aptidão para as artes. O marido, o funcionário público Ubirajara Monteiro, largou o emprego de fiscal na prefeitura para administrar uma loja no térreo do conservatório que vendia tudo que um artista precisasse, de corda para instrumentos a maquiagem de teatro e circo.

Ubirajara aprendeu fotografia. Registrou os anônimos entrevistados pela companheira nas viagens do casal, que se tornariam personagens de seus textos.

Por causa dos problemas da idade, ela se afastou nos últimos da direção do conservatório, mas não de ser a mantenedora do lugar, onde ia com frequência.

Sem silêncio não tem música, também costumava dizer.

Léa Mazelli Ziggiatti Monteiro silenciou, mas não a música. Viúva, morreu no último dia 16 de janeiro, aos 87 anos, após complicações de problemas abdominais. Deixou os filhos Lara e Evandro, musicistas como manda a tradição da família —ele, que tem formação em violino, piano e flauta, é arquiteto e desenvolve o projeto de um teatro no conservatório que vai levar o nome da mãe.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.