Descrição de chapéu Obituário Francisca Maria Ubaldo (1950 - 2023)

Mortes: Feirante, sambava em reisado do sertão pernambucano

Francisca Maria nasceu e criou os filhos em ilha banhada pelo rio São Francisco

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Juazeiro (BA)

Na Ilha do Massangano, no meio do rio São Francisco, todo janeiro é tempo de Samba de Véio. A localidade de Petrolina, no sertão de Pernambuco, tem tradição de reisado há mais de um século. No meio da roda, esguia e de sorriso sereno, Chiquinha dançava e puxava o povo para entrar na brincadeira.

O batuque e a pisada são repassados como herança na comunidade remanescente de quilombolas refugiados.

Chiquinha contava que aprendeu a sambar com o avô, ainda pequena. Mas, na época, não podia sair com os sambadores que vão de porta em porta pela comunidade. A festança começava tarde e era proibida para as crianças da localidade, que ficava muito escura por ainda não ter energia elétrica.

Idosa de roupa vermelha e lenço na cabeça, com um balão iluminado no fundo
Francisca Maria Ubaldo, a Chiquinha do Samba de Véio (1950 - 2023) - Leitor

Francisca Maria Ubaldo nasceu no dia 11 de maio de 1950, na mesma ilha onde viveu. Filha de Euclides José e Joana, cresceu em uma casa com oito irmãos. A infância foi de trabalho na roça, e muito cedo ela começou a vender verduras.

Na juventude, em um dos forrós organizados pelo irmão para animar a comunidade rural, conheceu Félix Manoel. Ele havia saído de Itacuruba (PE) para trabalhar na região, em 1975. Casaram-se e tiveram sete filhos. Mas sentiram a dor da perda de quatro deles, ainda bebês.

"Naquela época, falecia muita criança. Não tinha assistência, não se fazia pré-natal. Aqui na ilha tem até um cemitério de anjo", conta a filha Rosângela Maria dos Santos, 43.

Juntos, o casal trabalhava nas plantações e vendia o que colhia nas feiras livres da cidade, nos fins de semana. Foram 30 anos de rotina pesada, atravessando o rio antes de o sol nascer com as mercadorias, até a aposentadoria.

Nos 45 anos de união, além de dividirem o trabalho, compartilhavam a paixão pelo samba. A personalidade calma, de falar pouco, era deixada de lado por Chiquinha quando o som das batidas ecoava o ritmo, e ela começava a sambar.

"Para ela, o samba era tudo na vida. Ela só podia perder um samba se estivesse doente, sem condições de ir", diz o marido Félix Manoel Ubaldo, 75.

Em uma viagem com o grupo para uma apresentação no Festival de Inverno de Garanhuns, em julho de 2023, o marido estranhou que ela não quisesse comer, mesmo sempre dizendo que era "ruim de boca". O emagrecimento foi o alerta para buscar atendimento médico e começar uma bateria de exames.

Francisca Maria, a Chiquinha do Samba de Véio, morreu no último 6 de dezembro, aos 73 anos, um mês antes do seu esperado Dia de Reis. Teve uma parada cardiorrespiratória após meses de luta contra um câncer no fígado, que descobriu em novembro e que se espalhou pelo corpo.

Deixa o marido, os três filhos, Rosângela Maria, Rosilene Maria, 41, e Ricardo Ubaldo, 35, e dois netos, Raíssa, 18, e Richarlison, 12.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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