Descrição de chapéu Obituário Jorge Antônio de Araújo Cazumbá (1948 - 2024)

Mortes: Professor de português formou gerações no interior da Bahia

Querido pelos alunos, lecionou nos colégios de Feira de Santana a partir dos anos 1970

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São Paulo

Vinicius já sabe que, em Feira de Santana (BA), falar seu nome completo gera uma pergunta instantânea, seguida de um sorriso: "Cazumbá? Você é filho do professor Cazumbá?". Quando ele confirma, também sabe que vem uma história de banco de escola. Afinal, durante décadas, Jorge Antônio de Araújo Cazumbá deu aulas de português e redação nos principais colégios da cidade, particulares e públicos, além de cursinhos pré-vestibular.

"Meu pai, graças a Deus, deixou um legado muito bonito na cidade. Muita gente, hoje, é grata porque sabe escrever graças a ele", relata Vinicius.

Homem negro, com camisa vermelha, segura um coquetel em uma mesa, ao lado do filho, de óculos escuros e camisa amarela
O professor Jorge Antônio de Araújo Cazumbá (à esq.), ao lado do filho Vinícius; educador morreu aos 75 anos no último dia 21, em Feira de Santana (BA) - Leitor

O professor se formou na primeira turma de Letras da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), em 1971, e foi logo para a sala de aula.

Dali a alguns anos, no final dos anos 1970, ensinou gramática para um jovem chamado Tarcizio, que à época tentava passar no vestibular de medicina. Quase três décadas depois, em 2008, Tarcízio Pimenta (DEM) foi eleito prefeito de Feira de Santana.

Chegando ao gabinete, encontrou um profissional da prefeitura especializado na redação de decretos e discursos, respeitadíssimo na função: era o professor Cazumbá, que seria seu assessor durante todo o mandato até 2012.

A cidade natal de Cazumbá era São Gonçalo dos Campos (BA), a 20 km de Feira de Santana. Lá, ainda moleque, fez parte da Orquestra Filarmônica Municipal, onde passeou pelos instrumentos de sopro.

Anos depois, voltou já com diploma no braço, alçado a diretor do tradicional Colégio Municipal Agripina de Lima Pedreira, o primeiro homem negro a ocupar o cargo na instituição, motivo de orgulho para o filho.

Talentoso na música e na educação, também foi goleiro na seleção de futebol de salão da cidade. Na UEFS, anos depois, seguiu como goleiro e "fechou o gol" nos campeonatos internos disputados na universidade.

No futebol, o time de coração era a seleção brasileira, pela qual sofria junto do São Paulo, clube escolhido pelo filho.

"Em 1990, quando o Brasil perdeu na Copa do Mundo para a Argentina, eu tinha apenas seis anos, mas lembro que ele ficou tão chateado que jogou a camisa do Brasil na fogueira, na época do São João", recorda Vinicius.

A voz serena do baiano, pacífica, era o sinônimo de um jeito formal dentro e fora das salas de aula. Sabia ser sério ao cobrar as tarefas dos alunos, mas não deixava de dar uma gargalhada boa quando necessário.

Avô de uma garotinha, era o mais carinhoso com ela, a quem dava mimos quase todos os dias. Uma das últimas coisas que comprou para a neta, no início de janeiro, foi uma enorme piscina de plástico.

Aos poucos, foi deixando a profissão por uma mudança de cultura: alunos com mais internet e menos pedidos de aulas particulares.

Dedicou-se ao espiritismo, sendo palestrante e vice-presidente do Centro Espírita Mansão dos Humildes, no bairro de Cajazeiras, em Salvador. E deu foco à vida pública, tendo sido chefe de gabinete, assessor do prefeito e diretor do Departamento de Publicações em Feira de Santana.

Com fama de bom conselheiro e sempre prestativo, Jorge Antônio de Araújo Cazumbá morreu no último 21 de janeiro, aos 75 anos, após um mal súbito. Deixou três filhos e uma neta.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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Erramos: o texto foi alterado

O primeiro nome do professor é Jorge, não José, como foi escrito por erro de edição em versão anterior deste texto.

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