Descrição de chapéu Obituário Paulo Ferreira Cruz (1947 - 2023)

Mortes: Foi mestre de cultura popular no sertão de Pernambuco

Agricultor, Paulo Cruz era brincante de reisado e foi jogador de futebol

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Juazeiro (BA)

Há mais de 85 anos, o Reisado das Caraíbas alegra as noites de luar no sertão de Pernambuco. Vestidos entre azuis e vermelhos, com chapéus rodeados de fitas coloridas e enfeites, os brincantes cantam "eu esse ano vou sair na brincadeira. Meu peito sente, meu coração alegria". O trecho é da canção "Eu Vou Sair na Brincadeira", do mestre Paulo Cruz.

Paulo Pereira Cruz nasceu no dia 6 de maio de 1947, no sítio Descobrimento, zona rural de Arcoverde (PE). Foi criado na lida da roça, plantando e colhendo desde menino.

Homem com fantasia vermelha de reisado e chapeu nordestino
Paulo Ferreira Cruz, o mestre Paulo, morreu no último dia 21 de dezembro, aos 76 anos - Leitor

A família era grande, cresceu em uma casa com 20 irmãos, sendo oito adotados. Um mais novo, Antônio, conta que tudo era dividido. Não havia separação de quem era tal roupa ou sapato, era de todos. Em cada prato de barro, três comiam.

"É para crescerem unidos, para não brigarem", justificava o pai José Pereira Cruz. Alagoano, foi ele quem começou a brincadeira do reisado na comunidade Caraíbas, onde foi morar com os filhos ainda pequenos.

"A gente cresceu e continuou cantando o reisado, sempre nós dois. A luta da gente é essa", afirma o irmão Antônio Pereira Cruz, 75. "Nos anos 1960, a gente começou a brincar o reisado nas semanas santas. Não tinha energia e a gente aproveitava a noite de luar, fazia fogueira para ficar claro, que nem os escravos dançavam."

Foi também em Caraíbas que Cruz se apaixonou pela prima Cacilda Ferreira Cruz. Casaram-se em 1968 e tiveram sete filhos. A mulher cantava no grupo de reisado e comandava a igreja local. Foram mais de 50 anos juntos até ficar viúvo, há três.

Na década de 1970, se dividia entre o sertão e Recife. Na época da seca, ia para a capital trabalhar em empreiteiras para sustentar a família. Quando batia o inverno, voltava para a roça.

Além de cantar e bater pandeiro no reisado, Cruz também gostava de futebol. Destaque das peladas da comunidade, foi convidado para jogar no Vasco de Arcoverde. "Até hoje era conhecido como um dos melhores jogadores", orgulha-se a filha Elba Cruz, 39.

O reisado o levou com seus familiares para várias partes do país, como Paraíba e São Paulo, além de dezenas de cidades no interior nordestino.

O mestre esteve à frente da Associação Cultural Reisado de Caraíbas, que representa diversos artistas da comunidade como aboiadores e cantores. Assumiu após o irmão e foi sucedido pela filha, que hoje canta no lugar da mãe. Entre seus descendentes, três filhos e dois netos fazem parte do grupo. Um bisneto já é "dançador".

Mestre Paulo morreu no último 21 de dezembro, aos 76 anos, vítima de um problema renal agravado pela diabetes. Deixa sete filhos, Edivania, Evanilda, Edilene, Elba, Paulo Kleriston, Paulo Emerson e Paulo Roberto, mais 15 netos e seis bisnetos, além de muitos irmãos e sobrinhos. Uma família grande para manter sua tradição de pé.

"Ainda deu tempo de fazer a colheita de feijão, milho e fava. Morreu trabalhando", afirma o irmão.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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