Descrição de chapéu Obituário Célia Senna Gomes de Carvalho (1928 - 2023)

Mortes: Cantora, conseguiu realizar sonho de lançar CD aos 91 anos

Célia Senna cantava em emissoras de rádio da Bahia, mas o machismo impediu sua carreira

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Juazeiro (BA)

Durante anos, a voz de Célia Senna ecoou por Senhor do Bonfim (BA), nos alto-falantes espalhados pelas ruas da cidade. Religiosamente, às 18h, cantava "Ave-Maria" e emocionava os moradores.

Célia nasceu em uma família de cinco irmãos, mas foi a única registrada com uma letra dobrada no Senna, por causa de um erro no cartório.

Idosa com vestido azul sentada em uma cadeira, com um quadro de Jesus Cristo na parede
Célia Senna Gomes de Carvalho (1928 - 2023) - Arquivo pessoal

Parte de sua infância foi em uma chácara, onde cantava enquanto alimentava as galinhas e brincava no pé de caju. Um tio, que era poeta e dono do jornal da cidade, ouviu e a convidou para aprender técnicas de canto.

Na juventude, mudou-se com a família para uma casa no centro da cidade, herança dos avós. Célia se apresentava em casamentos, aniversários e no Cine-teatro São José.

Aprendeu a datilografar e se tornou professora da função. "Era conhecida como a Dama da rua Costa Pinto, eterna por cantar e encantar corações", afirma o sobrinho neto Thiê Gomes, 36.

Em visita ao município, o poeta Olegário Mariano se impressionou com a voz da jovem e quis levá-la para seguir carreira no Rio de Janeiro. Célia dizia com tristeza que o pai não permitiu, pois não era uma profissão para "moças de família".

Sempre generosa, ajudava sobrinhos e parentes. Certa vez, escreveu uma carta para o então presidente Getúlio Vargas, pedindo uma bolsa de estudos para uma afilhada que sonhava estudar em uma escola particular da cidade. O pedido foi atendido e a jovem se formou.

Foi em uma noite de festa junina que Célia conheceu o então estudante de medicina Henrique Junior. Casaram-se e foram morar na capital Salvador. A vida ao lado do psiquiatra, que era muito ciumento, a fez deixar os palcos.

Em uma viagem para o casamento de uma sobrinha, em 1972, o carro em que estava com a família capotou. Perdeu seu único filho, Henrique José, e seu pai. Célia teve depressão por causa da tragédia.

Se mudou para São Paulo, onde aprendeu a tocar violão, e fez amigos que a ajudaram a deixar a medicação. Voltou para Bahia e morou na mesma casa onde viveu com os pais, até envelhecer. Ficou viúva há 25 anos e com o tempo precisou de cuidados, por isso, foi para um lar de idosos.

Na instituição, cantava para colegas e brigava por seus direitos. "Ela tinha uma personalidade muito forte. Todo mundo gostava dela. Até quando foi internada, cantava", diz a sobrinha Ana Cristina Sena Gomes, 71. Suas canções preferidas eram as que foram sucesso nas vozes de Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Cauby Peixoto.

Mais recentemente, passou a ter problemas de saúde e quedas a deixaram sem andar, mas sempre manteve a boa memória. Quando recebia visitas, recitava poesias.

Os amigos se reuniram para lançar seu primeiro CD, aos 91 anos de idade. Em "Canções de Saudade", ela interpreta três músicas do tio poeta. O lançamento foi um encontro artístico, como as festas de aniversário que gostava de dar.

Devota de Santa Terezinha, mantinha uma imagem ao lado da cama. "Conversava muito com a santa, como se fosse uma pessoa. Dizia que a santa dava cada carão nela porque ela aprontava", lembra a sobrinha aos risos.

Célia morreu no último dia 6 de dezembro, vítima de uma infecção generalizada, aos 95 anos. Era a última dos irmãos. Em seu velório, cantoras da cidade fizeram a despedida. Deixa mais de dez sobrinhos e muitos amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.