Descrição de chapéu Obituário Maria Neire da Silva Rocha (1958 - 2023)

Mortes: Lutou pela valorização nacional do carimbó

Mestra produzia tradicional grupo paraense e mantinha projetos culturais para crianças

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Juazeiro (BA)

Até o carimbó ter o reconhecimento como patrimônio imaterial do país, foram anos de articulação. Maria Neire Rocha foi uma das fundadoras da campanha Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro, movimento iniciado em 2005 com a união de vários grupos que trabalham o ritmo. Ela saía às ruas e viajava pelo Pará. Apenas em 2014 a tradição popular recebeu o título.

A vida de Maria Neire foi dedicada ao carimbó. Dona de casa, ao fazer as tarefas do dia, estava sempre com o computador ao lado. Conversava com mestres de todo o estado, articulava encontros e produzia apresentações.

Mulher de óculos e camiseta laranja segura dois buquês de flores brancas, um em cada mão
Maria Neire da Silva Rocha (1958 - 2023) - Arquivo pessoal

Como toda belenense, desde criança conviveu com as rodas de carimbó. Mas seu envolvimento com grupos da tradição se deu quando conheceu Lucas Pacheco Bragança, jovem que tocava nas rodas de samba. Casaram-se e dividiram a paixão pelo ritmo paraense, em 42 anos de convivência.

Em uma brincadeira entre amigos no bairro da Pedreira, em Belém, onde morava, Neire viu nascer o Grupo Sancari, em 1996. Acompanhando o marido, começou a colaborar na produção e chegou a ser diretora do projeto, que já rodou o país apresentando o gênero musical.

Sua casa se transformou quase em um centro cultural, cheia de instrumentos e figurinos da dança por todos os lados. "Depois que ela se envolveu no carimbó, não conseguiu mais sair. Tudo que ela resolvia fazer, fazia com vontade", afirma o mestre Lucas, 65.

A mestra dançava um pouco, mas gostava mesmo era de organizar eventos. "Dizia que cansa muito dançar o carimbó", revela o marido.

Neire e o companheiro foram os idealizadores de um dos maiores eventos do gênero, o Festival Pau & Corda do Carimbó. O projeto, realizado anualmente desde 2008, reúne grupos de vários municípios em ações na capital para marcar o Dia Municipal do Carimbó.

A mestra também foi do Comitê Gestor da Salvaguarda do Carimbó e atuou na elaboração do Plano de Salvaguarda do Carimbó.

Mestre Lucas define a personalidade da mulher como forte. "Se alguém pisasse no seu calo, ela explodia. Sempre foi uma pessoa muito da razão. Não gostava de ver ninguém querendo passar a perna nos mestres do carimbó. Se visse, subia no tamanco. Era uma batalhadora por essa causa."

Dedicada à comunidade em que cresceu, a mestra criou projetos para atrair crianças e preservar a cultura local. O Crias do Pantanal oferecia atividades de música e dança. Já o Giras do Sol promovia vivências com os mestres de diversas manifestações culturais. Ela ainda coordenou o projeto de sustentabilidade ambiental Criar, Reciclar e Transformar.

Neire morreu no dia 15 de novembro passado, aos 65 anos, por causa de uma infecção generalizada. Dias antes, teve uma crise de vesícula, que a fez passar por quatro cirurgias em dez dias e estava agendada para a quinta.

Deixa os filhos Thiago Rodrigo e Luciano Roberto, além dos netos Luciana, Pedro de Lucas, Pedro Gabriel e Noemi.

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